O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

sábado, 29 de outubro de 2011

Albert Camus ... perfeito!

Somos todos infelizes. A nossa pátria preparou-nos um terreno para as paixões e os dissídios. Cada um de nós vive por trás de uma muralha da China desprezando-se mutuamente. Os nossos verdadeiros inimigos são os popes, a vodka, a coroa, os polícias, ocultando os seus rostos e excitando-nos uns contra os outros. Esforçar-me-ei por esquecer… todo este atoleiro para se chegar a ser um homem e não uma máquina de incubar o ódio…
Só amo a arte, as crianças e a morte.
O meu sangue gela de vergonha e de desespero. Só há vazio, maldade, cegueira, miséria. Só uma compaixão total pode produzir uma mudança… Reajo assim por que a minha consciência não está tranquila… Sei o que devo fazer: dar todo o meu dinheiro, pedir perdão a toda a gente, distribuir os meus bens, o meu vestuário…
Mas não posso! ... não quero

... um quintal e uma janela para ver o sol nascer!

Canção de Outono - Cecília Meireles

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Trailer

... que livros!

Por Quem Os Sinos Dobram - Raul Seixas

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado, é...
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais.

Não sonho mais ...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Milan Kundera

O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

5ª SINFONIA DE BEETHOVEN

Trecho: A insustentável Leveza do Ser

"Todos nós temos a necessidade de ser olhados. Podemos ser classificados em quatro categorias, segundo o tipo de olhar sob o qual queremos viver.
A primeira procura o olhar de um número infinito de pessoas anônimas, em outras palavras, o olhar do público (...)
Na segunda categoria estão aqueles que não podem viver sem ser o foco de numerosos olhares familiares. São os incansáveis organizadores de coquetéis e jantares, mais felizes do que os da primeira categoria, que quando perdem seu público imaginam que a luz se apagou na sala de suas vidas. É o que acontece a todos, mais dia menos dia (...)
Vem em seguida a terceira categoria, aqueles que têm necessidade de viver sob o olhar do ser amado. A situação destas pessoas é tão perigosa quanto a daquelas da primeira categoria. Basta que os olhos do ser amado se fechem para que a sala fique mergulhada na escuridão (...)
Por fim existe a quarta categoria, a mais rara, a daqueles que vivem sob o olhar imaginário dos ausentes. São os sonhadores".

O uso da arte e da estética pela Alemanha nazista.

O último poema - Manuel Bandeira

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

... infeliz o país que necessita de heróis!

Silêncio interior - Mario Quintana

O silêncio desta casa me consome,
Não consigo dormir...
Emudece-me,
Desvia todos os meus raciocínios...
O coração palpita aceleradamente,
Dói profundamente...
A alma fica cheia de amarguras...
Os sentimentos distanciam-se,
A solidão aproxima-se,
A paixão evapora-se,
O amor diminui-se...
A incapacidade pela situação,
Entristece-me, tira,
Rouba minha privacidade, felicidade...
Mas tento prosseguir, vivo,
Pois a Razão de Viver motiva-me mais e mais,
Tenho a certeza que um dia reaparecerá, reviverá...
Minha poesia é sem preço, solta,
Vaga como um vaga-lume,
Valseia em noite de luar intenso,
Diz sim, diz não...
Não digo nada, pois não tenho nada pra dizer,
Só desfaço-me em lágrimas constantes,
Não sou eu, não sou você...,
Não somos quase nada...
Sou apenas um simples mortal,
Tentando deixar suas pegadas de vivência,
Nesta Terra tão meteórica...!

... outros livros muito bons!

"O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo. Os homens verdadeiramente grandes devem, parece-me, experimentar uma grande tristeza."

...um livro revelador!

Dostoiévski

Quando é mais penoso compreender tudo, tomar consciência de todas as impossibilidades, de todos os muros de pedra; porém não se humilhar diante de nenhuma dessas impossibilidades, diante de nenhuma dessas muralhas se isso te repugna, chegar, seguindo as deduções lógicas mais inelutáveis, às conclusões mais desesperadoras, no tocante a esse tema eterno de tua parte de responsabilidade nessa muralha de pedra, se bem que esteja claro até a evidência que tu não estás aqui para nada, e em conseqüência mergulhares silenciosamente, mas rangendo deliciosamente os dentes, na tua inércia, pensando que não podes mesmo te revoltar contra seja o que for, porque não há ninguém em suma, porque isto não é senão uma farsa, senão uma falcatrua, porque é uma trapalhada, não se sabe o quê nem se sabe quem, porém que, malgrado todas essas velhacadas, malgrado essa ignorância, tu sofres, e tanto mais quanto menos compreendes.

... excelente filme!

Florbela Espanca

Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...

... vamos celebrar nossa tristeza!

Pai, me ensina a ser palhaço...

Soneto de Fidelidade - Vinícios de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Morte Vida Severina - João Cabral de Melo Neto

Essa bala que um homem
leva às vezes na carne
faz menos rarefeito
todo aquele que a guarde

O que um relógio implica,
por indócil e inseto,
encerrado no corpo
faz este mais desperto.

E se é faca a metáfora
do que leva ao músculo,
faca dentro de um homem
dão-lhe maior impulso.

O fio de uma faca
mordendo o corpo humano
de outro corpo ou punhal
tal corpo vai armando,

pois lhe mantendo vivas
todas as molas da alma
dá-lhes ímpeto de lâmina
e cio de arma branca,

além de ter o corpo
que a guarda crispado,
insolúvel no sono
e em tudo quanto é vago,

como naquela história
por alguém referida
de um homem que se fez
memória tão ativa

que pode conservar
treze anos na palma
o peso de uma mão,
feminina, apertada.

Elegia 1938 - Carlos Drummond de Andrade

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

Vinicius de Moraes - Soneto de Separação

Tatuagem - Chico Buarque

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bicarbonato de Soda - Álvaro de Campos

    Súbita, uma angústia... 
     Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma! 
     Que amigos que tenho tido! 
     Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido! 
     Que esterco metafísico os meus prpósitos todos! 
     Uma angústia,  
     Uma desconsolação da epiderme da alma,  
     Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço... 
     Renego. 
     Renego tudo. 
     Renego mais do que tudo. 
     Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles. 
     Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na 
      circulação do sangue? 
     Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro? 
     Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me? 
     Não: vou existir.  Arre!  Vou existir. 
     E-xis-tir... 
     E--xis--tir ... 
     Meu Deus!  Que budismo me esfria no sangue! 
     Renunciar de portas todas abertas, 
     Perante a paisagem todas as paisagens, 
     Sem esperança, em liberdade, 
     Sem nexo, 
     Acidente da inconseqüência da superfície das coisas, 
     Monótono mas dorminhoco, 
     E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas! 
     Que verão agradável dos outros! 
     Dêem-me de beber, que não tenho sede!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ana Cristina César

trêmula porque não cabe no tempo
trêmula - porque não cabe - no tempo
que não te oferto
Não é diante da janela que te falo
Não recito para os pássaros
Não é o que se diga.

Antes havia o registro das memórias
cadernos, agendas, fotografias
Muito documental.

Eu também estou inventando alguma coisa
para você
Aguarde até amanhã.

Uma vez ouvi secamente o chega pra lá
e pensei: o mundo despencou
Quem teria a chave?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Bêbado e A Equilibrista

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...

Sigmund Freud

Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que muitas civilizações, ou épocas culturais - talvez até a humanidade inteira - se tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de civilização?

Arthur Schopenhauer

"O que é a modéstia senão uma humildade hipócrita pela qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não tem!"

Marília de Dirceu

Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
                Graças, Marília bela,
        Graças à minha Estrela!

Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
                Graças, Marília bela,
        Graças à minha Estrela!


Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
                Graças, Marília bela,
        Graças à minha Estrela!

Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes.”
                Graças, Marília bela,
        Graças à minha Estrela!

domingo, 23 de outubro de 2011

... apenas assim!

Sou apenas uma mulher! Uma mulher que tem momentos infantis, deprimidos ou de felicidade... sou apenas uma pessoa que comete erros, mas que tenta corrigi-los pra viver, que pede ajuda pra Deus, que precisa ter força pra seguir somente, que briga com a família e com os amigos, mas não vive sozinha, que gosta de ajudar, mas que necessita de ajuda, que se estressa fácil, mas que não abandona e que tenta ser perfeita mesmo sabendo que nunca será...
Sempre me senti diferente dos outros. Não me vejo mais bonita, nem mais inteligente, nem mais especial, nem mais esperta, nem mais maluca e nem mais importante, apenas diferente.
Sou diferente na forma de sentir, tudo que me toca, me toca fundo. Tudo que me alegra, me alegra muito. Tudo que me dói, dói forte demais, corta. Nunca tive muitos freios em matéria de sentimento. Sempre que eu quis ir, fui. Muito me estrepei. Sempre que quis falar, falei. Muito me ralei. Aprendi um pouco a calar, a tentar respirar fundo e pensar.
Sou uma pessoa comum, mas com características incomuns... e só me vejo diferente por sentir intensamente tudo que tenho ou experimento na vida... só quero ser feliz e poder um dia olhar pra trás e não me arrepender de não ter vivido plenamente!

... sem hipocrisia ou modéstia!

Quem é que pode entender todas as convenções que somos obrigados à manter? Ninguém tem resposta pra esta pergunta. Somos "quem devemos ser" somente em relação ao que o controle do "contrato social" nos permite sermos. Vivo em uma sociedade panóptica, individualizada, onde os olhos do "todo social", me segue por toda parte, pois esta nos outros e em mim.
Guardo, e até com certa agonia nada solidária, tudo o que penso do mundo, das relações e pessoas, pois sou obrigada a respeitar a hipocrisia social que condiciona meus passos, e que introjetei à minha personalidade, que se faz nesta desumana e asfixiante necessidade de conviver, de precisar ser considerada uma "pessoa normal" que aceita toda a diferença além de mim.
São tantos os sonhos que ficaram no caminho, empregos que não abandonamos, chefes que suportamos, relações com os quais nos acostumamos, tantas são as vontades de "chutar o balde" ao longo da estrada curva da vida que deixamos passar em nome do que é considerado "correto" pelo legitimo convívio social.
E até esta clareza de pensamento e sensações assusta porque não significa "liberdade" mas consciência por tudo o que nos acostumamos à tolerar em nome da paz de espírito que não pacifica o essencial, que somos nós!
Me sinto só e tenho tanta raiva quase todo o tempo, e tão raras forão as vezes que me senti livre, que certas certezas se tornarão receios e certos receios... medo! Medo e coragem são lados díspares, mas ao mesmo tempo paralelos e congruentes do necessário orgulho de pertencer que me faz feliz! ... ou seja, a liberdade é algo inatingível!


Simone Rachel

"Grande parte do nosso amor familiar é apenas protocolo social"

Famílias podem ser máquinas de moer gente. Uma das marcas de nossa fragilidade é depender monstruosamente de laços tão determinantes e ao mesmo tempo tão acidentais. O acaso de um orgasmo nos une.
Em meio a jantares e almoços intermináveis, o horror escorre invisível por entre os corpos à mesa.
Talvez muitos pais não amem seus filhos e vice-versa. Quem sabe, parte do trabalho da civilização seja esconder esses demônios da dúvida sob o manto de protocolos cotidianos de afeto.
Até o darwinismo, uma teoria ácida para muitos, estaria disposta a abençoar esses protocolos com a sacralidade da necessidade da seleção natural. Mesmo ateus, que costumeiramente se acham mais inteligentes e corajosos, tombam diante de tamanho gosto de enxofre.
Pergunto-me se grande parte do sofrimento psíquico e moral de muita gente não advém justamente da demanda desses protocolos de afeto. Da obrigação de amar aqueles que vivem com você quando a experiência desse mesmo convívio nos remete a desconfiança, indiferença, abusos, mentiras e mesmo ódio.
A horrorosa verdade seria que existem pessoas que não merecem amor? Pelo menos não de você. Mas você é obrigado a amar irmãos, filhos, pais, avós, e similares. E, se não os amar, você adoece.
Um sentimento vago de desencontro consigo pode ocorrer se um dia você se perguntar, afinal, por que deve amar alguém que por acaso calhou de ter o mesmo sangue que você? Alguém que é fruto de um ato sexual entre o mesmo homem e a mesma mulher que o geraram em outro ato sexual.
Quem sabe a força do "mesmo sangue" seja uma dessas coisas que a experiência moderna esmagou, assim como a crença, para muita gente já vazia, no sobrenatural, na providência divina ou no amor romântico.
Sim, o niilismo teria aí uma de suas últimas fronteiras?
É comum remeter esse vazio da perda dos vínculos de afeto ao mundo contemporâneo da mercadoria. Apesar de ser verdade que os laços humanos se desfazem sob o peso do mundo do capital, parece-me uma ingenuidade supor que o mal da irrealidade dos afetos seja "culpa" do capital.
É fato que a modernidade destrói tudo em nome da liberdade do dinheiro, mas é fato também que não criou a espécie em sua miséria essencial. A melancolia tem sido a verdade do mundo muito antes da invenção do dólar.
Por que devo amar alguém apenas porque essa pessoa me carregou em sua barriga por nove meses? Ou porque penetrou, num momento de prazer sexual, a mulher que iria me carregar em sua barriga por nove meses?
Por alguma razão, questões como essas parecem mais sagradas do que Deus, o bem e o mal, ou a vida após a morte. Como se elas devessem ser objetos de maior fé do que as religiosas. Ou porque elas garantem a convivência miúda e tão necessária para a estabilização da sociedade. Só monstros colocariam em dúvida tal sacralidade.
Mas quantas horas nós passamos vasculhando nossas almas em busca de afetos que, muitas vezes, podem ser o contrário do que deveríamos sentir? Ou não achamos nada além da indiferença? 
Às vezes, a pergunta pelo amor pode ser apenas um protocolo contra o desespero.
Estamos preparados para pôr em dúvida a normalidade sexual no caso de mulheres que gostam de fazer sexo com cachorros, mas não estamos preparados para suspeitar que grande parte de nosso amor familiar não passe de protocolo social.
Rapidamente, suspeitaríamos que estamos diante de pessoas doentes e sem vínculos afetivos.
Por que, afinal, mulheres homossexuais correm em busca de "misturar" óvulos de uma com a barriga da outra, como se, assim, mimetizassem o coito reprodutivo heterossexual? Será que é amor por uma criança que ainda nem existe ou apenas um desejo secreto de ser "normal"?
Ter filhos é prova desse amor ou apenas um impulso cego que se despedaça a medida que os anos passam?
Um dos nossos maiores inimigos somos nós mesmos, mais jovens, quando tomamos decisões que somos obrigados a manter no futuro. Com o tempo, algo que nos parecia óbvio se dissolve na violência banal de um dia após o outro. Como que diante de um espelho de bruxa.
Luíz Felipe Pondè


Pra nunca esquecer!

A melhor do Arnaldo Antunes ...

... um milhão de reticências e fim!

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer,
Quando convém
Aparecer ou quando quero.

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou

Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
E, p'rá ser honesto,
Só um pouquinho infeliz.

Giz - Legião Urbana

"A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" ... e pra pensar mais "A Bolsa e a Vida"

A emancipação do tradicionalismo econômico parece sem dúvida ser um fator que apóia grandemente o surgimento da dúvida quanto à santidade das tradições religiosas e de todas as autoridades tradicionais. Devemos porém notar, fato muitas vezes esquecido, que a Reforma não implicou na eliminação do controle da Igreja sobre a vida quotidiana, mas na substituição por uma nova forma de controle. Significou de fato o repúdio de um controle que era muito frouxo e, na época praticamente imperceptível, pouco mais que formal, em favor de uma regulamentação da conduta como um todo, que penetrando em todos os setores da vida pública e privada, era infinitamente mais opressiva e severamente imposta.
A regra da Igreja Católica ,”punindo o herege, mas perdoando o pecador”, mais no passado do que no presente, é hoje tolerada pelas pessoas de caráter econômico completamente moderno, e nasceu entre as camadas mais ricas e economicamente mais avançadas do mundo por volta do século XV. Por outro lado, a regra do Calvinismo como foi imposta no século XVI em Genebra e na Escócia, entre o século XVI e XVII em grande parte da Holanda e no século XVII na Nova Inglaterra e, por algum tempo na própria Inglaterra, se tornaria a forma mais intolerável de controle eclesiástico do indivíduo que já pôde existir. E foi exatamente isso que foi sentido por uma grande parte da velha aristocracia comercial da época de Genebra, da Holanda e da Inglaterra. E a queixa dos reformadores, nesta regiões de grande desenvolvimento econômico, não era o excesso de controle da vida por parte da Igreja, mas a sua falta.


Nota: trecho bem significativo, não é mesmo? É impressionante como a ordem dominante, qualquer que seja ela, se articula em benefício próprio. Me fez lembrar a invenção de Céu, Inferno e claro, a possibilidade de um Purgatório, analisada por Le Goff em A Bolsa e a Vida, como uma possibilidade de salvação para o usurário, legitimando seu espaço na nova sociedade que se formava. Esse processo de gestação, segundo ele, deu-se através do encontro da cultura erudita com a cultura popular, criando condições de aceitação da nova organização econômica do ocidente: o capitalismo.

O usurário, passível de perdão, por ser de grande utilidade o seu "dinheiro de pecador" para Igreja e para a sociedade necessitada deste Capital! Maldita hipocrisia repetida tão solenemente pelo comodismo dos tempos modernos! Cultos, relações sociais e políticas das mais remotas temporalidades que justificam tudo em nome do dinheiro, da posição social, do condicionamento humano, da acomodação do homem e do sua alienação política, que quase sempre é tão útil, em favor dos poderosos de plantão. Marionetes necessitadas do perdão dos céus, um perdão criado pelo homem, em detrimento da idéia de um Deus humano e ao mesmo tempo justo. Cada vez mais, pessoas que não criam laços de cumplicidade, ou de amizade, mas que se usam, uns aos outros em nome de qualquer benefício próprio, do "vale quanto pesa". Deprimente!

Silêncio - Florbela Espanca

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Crônicas de Mortes Anunciadas - Exterminio dos ratos do MST


Povo de São Gabriel, não permita que sua cidade, tão bem conservada nesses anos todos, seja agora maculada pelos pés deformados e sujos da escória humana. São Gabriel, que nunca conviveu com a miséria, terá agora que abrigar o que de pior existe no seio da sociedade. Nós não merecemos que essa massa podre, manipulada por meia dúzia de covardes que se escondem atrás de estrelinhas no peito, venham trazer o roubo, a violência, o estupro, a morte. Esses ratos precisam ser exterminados. Vai doer, mas para grandes doenças, fortes são os remédios. É preciso correr sangue para mostrarmos nossa bravura. Se queres a paz, prepara a guerra. Só assim daremos exemplo ao mundo que em São Gabriel não há lugar para desocupados. Aqui é lugar de povo ordeiro, trabalhador e produtivo. Nossa cidade é terra de oportunidades para quem quer produzir e não oportunidades para bêbados, ralé, vagabundos e mendigos de aluguel.
Se tu, gabrielense amigo, fores procurado por um faminto rato do MST, dê-lhe um prato de comida, com três colheres cheias de qualquer veneno para rato. Se tu, gabrielense amigo, possui um avião agrícola, pulveriza à noite 100 litros de gasolina em vôo rasante sobre o acampamento de lona dos ratos. Sempre terá uma vela acesa para terminar o serviço e liquidar com todos eles. Se tu, gabrielense amigo, és proprietário de terras ao lado do acampamento, usa qualquer remédio de banhar gado na água que eles utilizam para beber. Rato envenenado bebe mais água ainda. Se tu, gabrielense amigo, possui uma arma de caça calibre 22, atira de dentro do carro contra o acampamento, o mais longe possível. A bala atinge o alvo mesmo há 1200 metros de distância.

Carta planfetária dos fazendeiros fascistas de São Gabriel

sábado, 22 de outubro de 2011

Loucura ...

Enlouquecer é perder o controle?
Então enlouquecer é libertar-se?

A loucura vem de fora para dentro
Ou de dentro para fora?

Alguém se torna louco?
Alguém se descobre louco?
Ou alguém se assume louco?

Se ninguém é igual
Quem é normal, afinal?
O que é loucura?

O que é amor
Senão obsessão doentia?
O que é fé
Senão esquizofrenia?

O fato é que somos todos loucos!
... mas uns fingem melhor que outros!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Peito Vazio - Ney Matogrosso

Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai

Ney Matogrosso - O mundo é um moinho

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Memórias do Cárcere

Em conversa ouvida na rua, a ausência de algumas sílabas me levou a conclusão falsa - e involutariamente criei um boato. Estarei mentindo? Julgo que não. Enquanto não se reconstruírem as sílabas perdidas, o meu boato, se não for absurdo, permanece; e é possível que esses sons tenham sido eliminados por brigarem com o resto do discurso.
Graciliano Ramos

Hasta siempre Comandante Che Guevara

Aprendimos a quererte
Desde la histórica altura
Donde el sol de tu bravura
Le puso un cerco a la muerte.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante che guevara.
Tu mano gloriosa y fuerte
Sobre la historia dispara
Cuando todo santa clara
Se despierta para verte.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante che guevara.

Vienes quemando la brisa
Con soles de primavera
Para plantar la bandera
Con la luz de tu sonrisa.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante che guevara.

Tu amor revolucionario
Te conduce a nueva empresa
Donde esperan la firmeza
De tu brazo libertario.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante che guevara.

Seguiremos adelante
Como junto a ti seguimos
Y con fidel te decimos:
Hasta siempre comandante.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante che guevara.

As janelas - Charles Baudelaire

Olhando de fora, através de uma janela
aberta, nunca se vê tantas coisas como
quando se olha por uma janela fechada.
Não existe cena mais profunda.
mais misteriosa, mais tenebrosa,
mais encantada, que uma janela iluminada
pela luz de um candelabro.
O que a gente vê com a luz do Sol é sempre
menos interessante do que o que se passa
atrás de uma vidraça. Nesse buraco negro ou
luminoso a vida passa, alucina e sofre.

Além das frestas, das sombras do telhado,
vejo uma mulher antiga, envelhecida,
sem fortuna, sempre debruçada sobre
alguma coisa e confinada dentro da casa.
Observo sua fisionomia, observo sua
vestimenta, seus gestos, e com esse quase
nada, re-escreco a história dessa mulher,
ou melhor ainda,
a sua lenda, que às vezes reconto
a mim mesmo, em lágrimas.


domingo, 16 de outubro de 2011

Pra Ser Sincero - Engenheiro do Hawaii

A Internacional

De pé, ó vitimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da ideia a chama já consome

A crosta bruta que a soterra

Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, ó produtores


Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional


Senhores, Patrões, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum


Para não ter protestos vãos
Para sair desse antro estreito
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito


Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional


O crime de rico, a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direitos para o pobre
Ao rico tudo é permitido


À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres


Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional


Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha


Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ela o restitua
O povo só quer o que é seu


Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional


Nós fomos de fumo embriagados
Paz entre nós, guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos, trabalhadores


Se a raça vil, cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verás que as nossas balas
São para os nossos generais


Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional


Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a Terra aos produtivos
Ó parasitas deixai o mundo


Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar


Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Salmo 23

O Senhor é o meu pastor e nada me faltará;
Ele me faz descansar em campinas verdejantes
e me leva a águas tranqüilas.
O eterno me dá novas forças;
e me guia no caminho certo
Ainda que eu caminhe por um vale escuro
como a própria morte, não temerei.
Pois Deus, está comigo,
Tu me proteges e me diriges.
Preparas um banquete para mim
onde meus inimigos possam ver,
Sou teu convidado de honra e
enches meu copo até a borda.
Sei que a tua bondade e o teu perdão
ficarão comigo enquanto eu viver.
E todos os dias da minha vida
morarei na tua casa

... mais uma página do meu diário!

Eu levanto todos os dias muito cedo, nem sempre tomo café porque estou sempre atrasada, mas ainda assim, sabe como chego ao serviço todos os dias? Quieta e com cara de sono, mas, segundo os que trabalham comigo, sempre lá e estranhamente feliz pelo novo dia. Uma amiga que trabalhou comigo acabou de me falar isso em uma mensagem.
Ah, eu não chorei ... na verdade, eu ri muito!
Pensei em como é que sofro demais em um dia que as coisas não deram certo, publico coisas tristes e me importo em contestar a desumanidade no mundo, e falar o que sinto, o que estou sentindo e pensando, e depois jogo vídeo game com meu filho, ouço rock alto e danço (do jeito que sei) ou bagunço, falo pelos cotovelos e dou aula de cada coisa que me perguntam e que eu sei, em casa ou fora dela, sempre falando de como eu, nós, podemos mudar o mundo, e com a mesma vontade.
Acho que é libertador não saber dizer não ... ou acordar!
Sou estranhamente uma crente na vida. Converso com Deus. Peço coisas, discuto e questiono outras, e já me peguei diversas vezes falando sozinha pela casa com Ele. Meu salmo preferido em uma bíblia que eu sempre digo ser contraditória? ... Salmo 23!
Ando muito triste de uns tempos pra cá, pois muitas coisas não tem saído como espero. Fiquei doente, e além disso pela preocupação tive uma dor de cabeça de enlouquecer, e uma dor de estômago que me consumiu metade do mês e que parecia não ter fim. Mas passou, pois pensei que estava me preocupando demais com algo que nem sei se está na hora de ser problema ainda, e resolvi desencanar.
Agora, falando do que entendo por fé, apesar de muitas e muitas vezes até mesmo no meio do dia perder a minha, ou por mais que geralmente pareça pras pessoas que não tenho fé, minha idéia de crença não contesta o que ou em que se acredita, e sim que se acredite de uma forma racionalizada.
Não posso ter vontade de comprar minhas coisas e esperar que o dinheiro apareça do nada, tenho que trabalhar pra ter o que quero. Tenho que cuidar da saúde, ou da mente pra ter saúde. Não posso estar ou ser impassível frente às diferenças que vejo todo mundo arrotando ou aumentando com sua indiferença.
Numa hora triste choro até se vejo um cachorro abandonado, ou um morador de rua no meu caminho, pois, sinto o quanto deve doer este abandono, e sofro por só poder olhar pro céu e dizer, sim: ta vendo isso, néh? ... e falo mesmo, por mais estranho que pareça, o Deus que todos clamam anda do meu lado e converso com Ele o tempo todo!
Sou ingênua? ... muito! Sempre acredito estar cercada de pessoas boas. E quando descubro que não é bem assim, sofro demais. Culpo-me por não ter notado suas personalidades, grito comigo mesma, e com os outros, quebro pratos, xingo as pessoas e choro como criança.
Mas no dia seguinte, mesmo depois de uma noite em claro, estou de pé! Com medo de cair, de sucumbir, mas de pé! Um amigo meu me falou outro dia que tenho uma capacidade de reação impressionante!
E assim vou seguindo, até com minhas constantes dores de cabeça e estômago, mas seguindo, e se posso falo pra todo mundo quando tenho oportunidade, que elas são bonitas, perfeitas e estão vivas. Ressinto-me por mim. Por muitas vezes, esquecer que sou bonita, perfeita e estou viva! E peço perdão quase o tempo todo.
Acredito que uma aula pode sim mudar um pouco o mundo, e todos os dias estou lá, cansada, meio sonolenta, azeda mas pronta pra dar a aula.
Não quero um dinheiro que não seja justo, que não me permita mudar um pouco as coisas, e é por isso que estudo, que leio e que espero estar acertando, pois tenho boa vontade.
Amanhã é outro dia sempre! E mesmo que escreva aqui ou mesmo que pareça não estar mais com vontade de seguir, amanhã pegarei meu ônibus e chegarei no horário, e vou adiante, muitas vezes com meu característico mau humor ou espírito critico, chato e intolerante, mas agindo do meu jeito pra mudar o que puder.
Toda segunda feira é um lindo dia! Uma nova semana começa e me preparo pra entender o quanto errei na semana anterior, e pra poder tentar acertar na semana que começa menos do que poderei acertar na próxima semana.

Simone Rachel

Albert Camus (... gosto de estudar as biografias dos meus preferidos)

Camus faz parte de uma sociedade de encontro de culturas, recebe influência majoritariamente européia mas em seu cotidiano está o povo, o som, a luz, o cheiro, o gosto do norte da África, que jamais o deixará, mesmo se visualizados sob o prisma de um olhar eurocêntrico, como atesta a anotação escrita em seu diário em julho de 1949, aos 36 anos de idade, em viagem rumo à América Latina:
“Descemos em Dacar à noite..., grandes negros, admiráveis em sua dignidade e elegância, em suas longas túnicas brancas, as negras com roupas antigas, de cores vivas, o cheiro de óleo de amendoim e de excremento, a poeira e o calor. São apenas algumas horas, mas reencontro o cheiro de minha África, cheiro de miséria e de abandono, aroma virgem e ao mesmo tempo forte, cuja sedução eu conheço.” (Albert Camus - Autor de O Estrangeiro)

Como o depoimento acima indica, Albert Camus viveu sempre a ambigüidade de ser “pied noir” na França e um descendente de colonizador na Argélia. O escritor peruano Mario Vargas Llosa considera, por isso, que Camus foi sempre um homem de fronteira:
“Acho que para entender-se o autor de L’Etranger é útil levar-se em conta sua tripla condição de provinciano, homem da fronteira e membro de uma minoria. As três coisas contribuíram parece-me, para sua maneira de sentir, de escrever e de pensar. Foi um provinciano no sentido cabal da palavra, porque nasceu, educou-se e se fez homem muito longe da capital, no que era então uma das extremidades remotas da França: África do Norte, Argélia. Quando Camus instalou-se definitivamente em Paris, tinha cerca de trinta anos, quer dizer, já era, em essência, o mesmo que seria até sua morte. Foi um provinciano para o bem e para o mal, mas sobretudo para o bem, em muitos sentidos.” (LLOSA, 1983: 231).
Deve-se recordar, ainda, que Camus recebeu educação escolar essencialmente francesa e como “...é através da educação que a herança social de um povo é legada às gerações futuras e inscrita na história” (MUNANGA,1988: 23), observamos através de sua biografia que Camus, assim como os alunos árabes que estudavam com ele, ouvia na  escola que havia uma hierarquia de civilizações e também que os seus ancestrais eram os gauleses, muito embora isso não queira dizer que os professores acreditavam que seus alunos árabes ou cabilas descendiam de Vercingétorix. Como assinala Todd (1998: 34), os franceses buscavam a assimilação pelo ensino: “confundindo seus interesses com os nossos, os indígenas compartilham conosco a herança do passado: nossos ancestrais tornam-se os deles”. Concebendo para si uma identidade que os situavam historicamente como os valorosos sucessores dos turcos, árabes, bizantinos, vândalos, romanos, cartagineses, justificavam com isso aquilo que consideravam uma missão civilizatória a ser desempenhada  no continente africano. Essas idéias não pareciam nem contestáveis nem racistas aos alunos e aos professores franceses.  Embora os professores não necessariamente concordassem com a existência de uma hierarquia entre as raças, valorizavam uma hierarquia das civilizações, desfavorável aos povos não europeus, sendo que a história da Argélia “é apresentada como uma pane de treze séculos entre as colonizações romanas e francesa.” (TODD, 1998: 34).
As concepções colonialistas difundem-se através da escola, da igreja, da família, enfim do meio social, mas é no convívio com seus melhores amigos que o jovem Camus se aproxima de uma visão crítica em relação ao colonialismo. Seus amigos afirmam que detestam “o estado de espírito dos colonos, que se apressam em afirmar que os árabes são preguiçosos, sifilíticos, hipócritas e ladrões.  Mas esses colonos precisam dos “indígenas” para fazer os pequenos trabalhos na cidade e os grandes no campo. Revoltados com os salários miseráveis, Robert e Claude levam Albert a tomar consciência dos problemas sociais para além de Argel.” (TODD, 1998: 63)
Os alunos argelinos tinham, assim, uma educação eurocêntrica, que desconsiderava, por exemplo, a geografia e a história cheia de sol e luminosidade dos países africanos. Falava-se de ancestrais loiros de olhos azuis, escamoteando a cultura, a origem africana, como se antes da invasão dos europeus não existisse história nessa região.
Como vimos anteriormente há também uma hierarquia entre os franceses de origem européia instalados na África que são chamados por pieds-noirs para distinguí-los dos franceses da Europa, mas esses  pieds-noirs  quando na colônia, no caso a Argélia, sentem-se superiores aos povos de origem africana e muitos defendem a cultura assimilacionista, como por exemplo o tio de Camus,  Gustave Acault que “despreza a burguesia, mas também diz “os indígenas” sem maldade. Aberto, ambivalente, como a esmagadora maioria dos “pés-pretos”, homem esclarecido, Acault acredita no homem universal. Os muçulmanos realizarão sua essência humana tornando-se franceses” (TODD, 1998: 47).
A dualidade de sentimentos em relação a África significará um embate pessoal e uma sensibilidade especial para com os povos africanos e descendentes. Novamente em seu diário de viagem, agora discorrendo sobre uma danceteria popular no Rio de Janeiro Camus escreve: “Nada diferencia esse dancing de mil outros pelo mundo afora, a não ser a cor da pele. A esse respeito, observo que tenho que vencer um preconceito inverso. Amo os negros a priori e fico tentado a ver neles qualidades que não têm...” (CAMUS, 1997: 78)

Judeus: os donos do mundo - Superinteressante

Judeus:os donos do mundo - Superinteressante

Brasil ... eu quis cantar!


Há 500 e tantos anos o Brazil chafurda no mesmo poço de problemas... corrupção, ignorância, igrejas, templos, igrejinhas, panelas, milicias, vertentes demais, linhas retas de menos, muito pajé e pouco índio... a gente quer cultura, direção e arte... a gente não quer polícia e nem ladrão por qualquer parte...

COPA DO MUNDO: BRASIL AINDA NÃO SABE QUANTO CUSTARÁ A COPA OU À QUEM

Moradores de Itaquera, na zona leste, protestam contra a remoção de famílias na área prevista para a construção do estádio do Corinthians, para a copa de 2014. Eles alegam que mais de três mil famílias terão de deixar a região por causa das obras de reurbanização.


http://www.youtube.com/watch?v=C64AW9ldefM&feature=relmfu


"O futebol é uma escola de violência e brutalidade e não merece nenhuma proteção dos poderes públicos, a menos que estes nos queiram ensinar o assassinato".

Lima Barreto (1881 - 1922)



GREVE DOS CORREIOS - BRASIL PAÍS DE INSATISFAÇÕES

Mas as greves, por emanarem da própria natureza da sociedade capitalista, significam o começo da luta da classe operária contra esta estrutura da sociedade. Quando os operários despojados que agem individualmente enfrentam os potentados capitalistas, isso equivale a completa escravização dos operários. Quando, porém, estes operários desapossados se unem, a coisa muda. Não há riquezas que os capitalistas possam aproveitar se não encontram operários dispostos a trabalhar com os instrumentos e materiais dos capitalistas e a produzir novas riquezas. Quando os operários enfrentam sozinhos os patrões continuam sendo verdadeiros escravos, trabalhando eternamente para um estranho, por um pedaço de pão, como assalariados eternamente submissos e silenciosos. Mas quando os operários levantam juntos suas reivindicações e se negam a submeter-se a quem tem a bolsa de ouro, deixam então de ser escravos, convertem-se em homens e começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas.

"Nós fugimos do Nazismo e escolhemos o Brasil por que achavámos que era um país de liberdade". Zora Herzog, mãe de Vladimir

Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.
Bakunin

Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei fazer
De puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Panem et Circenses (Pão e Circo) é uma frase em latim muito conhecida e utilizada na Roma Antiga, quando ainda era capital do poderoso e temido Império Romano, que conheceu sua ruina no ano 476 d.C.  Diferente do que se pensa a frase, Panem et Circenses,  não é fruto da fantasia popular, mas é atribuida um ao intelectual chamado Juvenal que escreveu: “O povo deseja, ansiosamente, apenas duas coisas: Pão e Circo.”. Este poeta foi um grande escritor e amava descrever o ambiente no qual ele mesmo vivia: um época na qual os políticos e imperadores eram capazes de qualquer falcatrua para manter o poder e a opressão sobre o povo e, por isso, precisavam do apoio das massas. A politica do “Pão e Circo” surgiu como forma de iludir os pobres, garantindo-lhes apenas comida e diversão para, assim, diminuir a insatisfação deles contra o mal governo dos tiranos e políticos da época. Durante os espetaculos sangrentos (Circo), como os combates entre gladiadores, que eram promovidos nos estadios para divertir a população, era distribuído pão de graça. Porém o custo desta política nefasta foi enorme e causou a elevação dos impostos e sufocou a economia do Império Romano, que caiu em ruinas e nunca mais se levantou.


"Se Deus é por nós, quem será contra nós".