O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo!

Para você ganhar belíssimo Ano Novo,
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com tôo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
vcoê não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens,
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta
não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo augusto direito de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente,
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade

Não me convidem a ser igual...

Gosto dos venenos os mais lentos, das bebidas as mais amargas, dos cafés os mais fortes, das drogas as mais poderosas, das idéias as mais insanas, dos pensamentos os mais complexos, dos sentimentos os mais fortes... tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos!
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre.


Clarice Lispector

A Rua dos Cataventos


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Mário Quintana

... então me vens!


Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...

Caio Fernando Abreu

O Racionais fez uma música pro Ronaldo Fenômeno ... é o fim do mundo mesmo!

COM TANTA COISA PRO RACIONAIS FAZER MÚSICA!!!! DENUNCIAR...


A fome provém da falta de alimentos que atinge um número elevado de pessoas no Brasil e no mundo. Apesar dos grandes avanços econômicos, sociais, tecnológicos, a falta de comida para milhares de pessoas no Brasil continua. Esse processo é resultado da desigualdade de renda, a falta de dinheiro faz com que cerca de 32 milhões de pessoas passem fome, mais 65 milhões de pessoas que não ingerem a quantidade mínima diária de calorias, ou seja, se alimentam de forma precária. 
Número extremamente elevado, tendo em vista a extensão territorial do país que apresenta grande potencial agrícola. Mas isso é irrelevante, uma vez que existe uma concentração fundiária e de renda. Grande parte do dinheiro do país está nas mãos de somente 10% da população brasileira. 
O difícil é entender um país onde os recordes de produção agrícola se modificam de maneira crescente no decorrer dos anos, enquanto a fome faz parte do convívio de um número alarmante de pessoas. A monocultura tem como objetivo a exportação, pois grande parcela da produção é destinada à nutrição animal em países desenvolvidos. 
Mesmo com programas sociais federais e estaduais o problema da fome não é solucionado, o pior é que ela se faz presente em pequenas, médias e grandes cidades e também no campo, independentemente da região ou estado brasileiro. 
A solução para a questão parece distante, envolve uma série de fatores estruturais que estão impregnados na sociedade brasileira. Fornecer cestas básicas não resolve o problema, apenas adia o mesmo, é preciso oferecer condições para que o cidadão tenha possibilidade de se auto-sustentar por meio de um trabalho e uma remuneração digna.


Por Eduardo de Freitas
Graduado em Geografia
Equipe Brasil Escola

CONFIRA O CLIPE NA ÍNTEGRA DA MÚSICA QUE OS RACIONAIS MC's FIZERAM PARA RONALDO FENÔMENO

http://tvg.globo.com/caldeirao-do-huck/O-Programa/noticia/2011/12/huck-homenageia-ronaldo-fenomeno-com-clipe-dos-racionais-mcs.html

Os Honoráveis Bandidos e o Holocausto Brasileiro

http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/artigos-e-debates/2246-os-honoraveis-bandidos-e-o-holocausto-brasileiro

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Ana Cristina César


Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.

... uma música que renova!

... mas duas medalhas sim!

Fim (Quando eu morrer)

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas

Que meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mario de Sá Carneiro  

Vinícius de Moraes


A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.



Mitologia




Ninguém gosta de receber más notícias, ser contrariado ou ter suas expectativas desfeitas, nem mesmo os deuses. Apolo, o deus dos oráculos, devia saber o quanto a verdade podia doer. Ele amava Corones, uma jovem princesa de Tessália, mas ela gostava de outro, um simples mortal com quem se encontrava às escondidas. Desconfiado, Apolo mandou o corvo, um de seus auxiliares alados, vigiar de perto a faceira princesinha. Pobre corvo. Quando veio relatar os encontros furtivos de Corones, Apolo ficou furioso e resolveu castigá-lo, mudando a cor de suas asas brancas como a neve, para a cor preta que os corvos tem até hoje.

Muitos reis e tiranos do passado agiram como Apolo, punindo o mensageiro por causa do teor da mensagem. Durante a campanha do comandante romano Lúculo contra alguns reinos da Ásia, quando sua legião entrou na Armênia os postos avançados mandaram avisar ao rei local que as forças romanas se aproximavam. O rei Tigranes ficou tão enfurecido que mandou decapitar o mensageiro, por isso ninguém ousou contar-lhe coisa alguma. Enquanto os romanos apertavam o cerco, Tigranes continuava inerte sem ter a menor idéia do que estava acontecendo, ouvindo apenas a voz de seus bajuladores que lhe diziam que Lúculo já devia estar voltando para Roma. Porém um amigo favorito do rei tomou coragem para anunciar-lhe que a derrota era iminente, como de fato aconteceu. 

Outro foi Côtis, rei da Trácia, dissoluto e beberrão que decidiu que haveria de passar uma noite de amor com a deusa Atena, uma das deusas virgens do Olimpo. Para uma ocasião tão importante, preparou um banquete numa mesa luxuosíssima numa alcova ricamente decorada, dispondo uma cama com lençóis e travesseiros dignos da ilustre convidada. Depois de tudo preparado, Côtis se pôs a beber vinho aguardando a chegada de Atena. Como o tempo passasse e a deusa não aparecia, mandou um guarda verificar se ela não tinha se perdido nos corredores do palácio. Quando o guarda retornou dizendo que não havia ninguém, o rei o matou. Mais tempo se passou e Côtis mandou um segundo guarda. O guarda também disse que não havia ninguém, e morreu também. Quando Côtis mandou o terceiro guarda, apavorado com o que acontecera com seus colegas, ele voltou dizendo que a deusa estava chegando ao palácio, pois sofrera um pequeno atraso e depois fugiu.


Poesia




Morte, não te orgulhes, embora alguns te provem
Poderosa, temível, pois não és assim.
Pobre morte: não poderás matar-me à mim,
E os que presumes que derrubaste, não morrem
Se tuas imagens, sono e repouso, nos podem
Dar prazer, quem sabe mais nos darás? Enfim,
Descansar corpos, liberar almas, é ruim?
Por isso cedo, os melhores homens te escolhem.
És escrava do fado, de reis, do suicida;
Com guerras, veneno, doença hás de conviver;
Ópios e mágicas também têm teu poder
De fazer dormir. E te inflas envaidecida?
Após curto sono, acorda eterno o que jaz,
E a morte já não é; morte, tu morrerás.

Jonh Donne


Do filme: Uma Carta de Amor

Minha querida Catherine

Sinto a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos. Quase consigo sentir-te a meu lado enquanto escrevo esta carta, e consigo cheirar o aroma de flores silvestres que me faz sempre lembrar de ti. 
Mas neste momento, essas coisas não me dão qualquer prazer.
As tuas visitas têm sido menos freqüentes, e por vezes sinto como se a maior parte do que sou estivesse lentamente a dissipar-se. Estou a tentar, ainda assim. À noite quando estou sozinho, chamo por ti, e sempre que a minha dor parece se maior, encontras constantemente maneira de voltar pra mim. Ontem à noite, nos meu sonhos, vi-te no portão perto de Wrightsville Beach.
O vento soprava através do teu cabelo e os teus olhos retinha, a luz pálida do sol que se desvanecia. Fico espantado quando te vejo encostada ao parapeito. Tu és bela, penso, enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém. Começo a andar lentamente na tua direção e quando, finalmente, te voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te também e perguntam-me em sussurros invejosos, "conhece ela?" e enquanto sorris para mim, respondo simplesmente com a verdade: "melhor do que meu próprio coração"
Paro quando chego perto de ti e envolvo-te nos meu braços. Anseio por esse momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma vez.
Levanto a mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fecha os olhos. As minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o fizeste, e é em alturas como esta, que eu sei, qual é o meu objetivo na vida. Estou aqui para amar, para te segurar nos meu braços, para te proteger.
Estou aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou aqui porque não existe outro sítio onde possa estar, mas depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos juntos um do outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. Ele insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos como que para evitar que fujamos. Como uma nuvem rolante, cobre tudo, fechando, ate mais nada restar senão nós os dois. Sinto a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de lágrimas porque sei que são horas de partires. O olhar que lanças naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria solidão, e a dor no meu coração, que permanecera silenciosa só por um pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E então estendes os braços e dás uns passos p/ trás, desaparecendo no nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu. Anseio por ir contigo, mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é impossível. E eu assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente.
Dou comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico sozinho no pontão e não me importo com que os outros pensam quando baixo a cabeça e choro, choro e choro.

Garrett... 
22 de julho de 1997


A emergência dos dias nos fazem criar uma redoma em volta do nosso sentir. Sou sempre tão intensa em tudo que vivo, sempre fui e vou continuar sendo assim, porque é tão fácil passar pela vida sem paixão, sem culpa, sem dor, com uma alegria comprada e falsa, e como já escrevi aqui antes é na tristeza que nos humanizamos, e com isso nos tornamos melhores, pois explode dentro de nós uma noção exata de quando ter orgulho foi desnecessário e de quando ter orgulho foi proteção. Ninguém admite, porque admitir a própria vulnerabilidade é admitir humanidade, e não queremos ser humanos mas deuses. Deuses mortais, perversos, vazios e inúteis mas deuses! 
É por isso que gosto tanto de ler Nietzsche, ele nos diz que não somos fortes mas sim orgulhosos, e donos de um orgulho corrompido e degenerado que nos afasta das alegrias simples do existir.

Na tristeza mesmo que no nosso silêncio relembramos os momentos procurando saber onde mais erramos, repetimos na cabeça as palavras, ditas e não ditas, procurando os erros do caminho, e a vida fica amarrada, mas só quando a gente sofre, perde, e pra mim isso é sinônimo de liberdade ... ser humana, estar humana, apesar do meu orgulho também ser venenoso, me sentir humana, sucumbir e não ser só mais uma pessoa que suporta tudo ou que não sente nada igual a todo mundo.

Gosto de sentir as coisas, qualquer coisa, pessoa, fato, ação da vida, do que uns chamam Deus e outros Ciência, não importa, me comovo com as coisas que todo mundo acha serem banais, cotidianas ou comuns como o sol se pondo, o desenho das nuvens no céu ... quando estou em paz e quieta olho pro céu fico procurando formas nas nuvens, procurando desenhos ... adoro o cair da tarde, o inicio da noite e o amanhecer ... amo tanto a vida que sinto um profundo medo de nunca até hoje ter conseguido compreender a razão dela e toda a emergência que vejo nos olhos das pessoas ... a emergência de vencer, de subir, de nunca se satisfazer com nada!


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

...LINDO!

Breve Testemunho

"Primeiro vieram buscar os judeus e eu não me incomodei porque não era judeu. Depois levaram os comunistas e eu também não me importei,pois não era comunista. Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal. Em seguida os católicos, eu era protestante. Quando me vieram buscar já não havia ninguém para me defender...”


Martin Niemöller (1892-1984), sobre sua vida na Alemanha Nazista.

Apostila (1928)

Aproveitar o tempo! 
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? 
Aproveitar o tempo! 
Nenhum dia sem linha... 
O trabalho honesto e superior... 
O trabalho à Virgílio, à Mílton... 
Mas é tão difícil ser honesto ou superior! 
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo! 
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos - 
Para com eles juntar os cubos ajustados 
Que fazem gravuras certas na história 
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)... 
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões, 
E os pensamentos em dominó, igual contra igual, 
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos - 
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo! 
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro. 
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto. 
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste. 
Aproveitar o tempo! 
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos. 
Aproveitei-os ou não? 
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
(Passageira que viajas tantas vezes no mesmo compartimento comigo 
No comboio suburbano, 
Chegaste a interessar-te por mim? 
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter? 
Qual foi a vida que houve nisto?
Que foi isto a vida?)
 
Aproveitar o tempo! 
Ah, deixem-me não aproveitar nada! 
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!... 
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa, 
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha, 
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras, 
O pião do garoto, que vai a parar, 
E estremece, no mesmo movimento que o da terra, 
E oscila, no mesmo movimento que o da alma, 
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.

Álvaro de Campos

Você que zomba dos outros ...

AULA DE DESENHO

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida,
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.


Maria Esther Maciel

CANÇÃO DE OUTONO

Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.

E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.


CANÇÃO DE OUTONO - Paul Verlaine
Tradução: Guilherme de Almeida

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Já escolhi meu sapato...

Eu sou a luz que se apaga....

Elis ...

... crianças

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,criancas-faturam-ate-r-2-mil-em-farois-e-feiras-de-sp,476080,0.htm

A infância não pode esperar

http://fundacaoabrinq.wordpress.com/2010/06/30/criancas-trabalham-durante-jogo-do-brasil/

Quero assistir

O Jardineiro Fiel

Feliz Natal ...

Me leve apenas para andar por aí



O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Chico Buarque

A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha

Caio Fernando Abreu

Porque aprendi, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola.
Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração precisa deixar pra trás.

Tive um sonho... estranho

Não comemoro o Natal! Raramente compro ou troco presentes, e minha ceia sempre é simples, quero dizer sem exageros, pois não consigo ver sentido em uma felicidade refletida em tanta tristeza espalhada pelas ruas! Respondo às mensagens dos amigos e da família, mas não lembro de algum dia ter escrito algum cartão e nunca comprei ou enfeitei uma árvore.
Não comemoro o Natal como as pessoas normais comemoram, e juro que não é nenhum rancor que tenho da vida, só que vejo este dia como um dia em que minha consciência fica mais aguda porque por onde olho vejo luz e festa em contraste com a sombra e a inconsciência dos que não tem como ou porque festejar, e que no meia-noite estarão em algum lugar dentro deste "espiríto" natalino invisível igual ao de todos que não compartilham seu frio, fome, vício, botas e roupas furadas ou invisibilidade!
Perguntaram este ano, pra um garoto morador de rua de menos de 13 anos, num destes programas que denunciam esta podridão toda que há no mundo, e que persiste à sombra dos impotentes como eu, e à luz natalina dos degenerados que só pensam no próprio peru de natal, porque ele cheirava cola, e ele respondeu que era "pra esquecer a fome"...
Bom, este ano eu fui deitar mais cedo comparando com o horário que normalmente durmo...
Apesar de sempre me lembrar que o Natal é a data do nascimento de Jesus, e ficar bem por isso pois considero a história dele um exemplo de renúncia à ser seguido em prol do próximo, todo ano fico mais quieta neste dia, e estava este ano também menos afeita a abraços do que no ano passado... talvez por minha tristeza, ou cansaço pela vida, porque como diz a personagem do escritor Górki, Tatiana em Pequenos Burgueses, "a vida cansa", deitei mais cedo e tive um sonho manso que valeu a noite de Natal...
Não lembro onde estava, nem com quem estava, lembro que estava estranhamente calada, que sentia uma raiva profunda e angustiante que até nem queria sentir, mas que meu orgulho me exigia solenemente sentir, e que não abaixei a cabeça ao cruzar um corredor qualquer entre umas salas, e que olhei em frente mesmo sentindo que no lugar tinha muitas pessoas que olhavam pra mim e que de repente, senti uma mão na minha cintura e uma voz que disse: venha, vamos comer alguma coisa! Está tudo bem!
Sai, com esta pessoa do lugar em que estávamos e que parecia ser uma casa velha pelo cheiro de mofo, e apesar de estar mesmo com fome não comi nada, mas não me importei, estava mais preocupada no próprio sonho em reconhecer a tal pessoa que estava comigo e que tinha voz familiar!
Lembro vagamente do sonho que me deixou uma sensação de paz! Sei que fiquei calada, e que a tal pessoa que não me lembro ainda de ter reconhecido nem no sonho e nem ao acordar, também não falou nada e só ficou do meu lado!  
Não me lembro de ter ouvido nada que pudesse me confortar de alguma forma ou diminuir minha raiva, mas acordei mais ou menos às quatro da manhã, sentei na cama e percebi que estava mais serena do que quando fui me deitar e com uma certeza de que estava amparada!
Pensei que talvez sendo eu, uma pessoa que acredita muito nos sonhos, até mesmo por minha inclinação religiosa, que talvez nesta noite, eu tenha estado ao lado do que nós cristãos convencionamos chamar por anjo! Um anjo que veio até mim para aliviar meu pesar pela vida, minha angústia!
Foi quase um Natal cristão, pois senti que alguém tinha vindo pra me resgatar da minha raiva, e me senti muito bem por não estar sozinha!

... como um jogo!

“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”



Caio Fernando Abreu

domingo, 25 de dezembro de 2011

Silvio Caccia Bava: A renda do brasileiro - Le Monde Diplomatique Brasil

Silvio Caccia Bava: A renda do brasileiro - Le Monde Diplomatique Brasil

PUC ao Vivo: O Desafio da Desigualdade - Setembro de 2007

A desigualdade é de longe o grande problema do país, herança do passado mas também impacto indireto das políticas atuais que a reproduzem. Neste primeiro vídeo (de um conjunto de 6), o professor Ladislau Dowbor analisa os dados básicos da desigualdade, confrontando dados estatísticos com as formas curiosas da sua apresentação na imprensa.

http://video.google.com/videoplay?docid=-809724830496934908#

A sociedade do consumo e a vida do espírito.

A sociedade do consumo e a vida do espírito.

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

______________________João Cabral de Melo Neto

MADALENA

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Quando meu rosto contemplo

Quando meu rosto contemplo,
o espelho se despedaça
por ver como passa o tempo
e o meu desgosto não passa.

Amargo campo da vida,
quem te semeou com dureza,
que os que não se matam de ira
morrem de pureza tristeza?

Cecília Meireles
In: Canções (1956)

... no emaranhado desses seus cabelos

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Somente estou só quando me faltam palavras...

O Leitor (2009) Trailer Legendado Oficial

A Um Ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

(Poema de Carlos Drummond de Andrade pra um Amigo ausente)

Grandes - Álvaro de Campos

 
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto. 
 Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto 
 Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo. 
 Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes 
 Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, 
 Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. 
 Grandes são os desertos, minha alma! 
 Grandes são os desertos. 

 Não tirei bilhete para a vida, 
 Errei a porta do sentimento, 
 Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. 
 Hoje não me resta, em vésperas de viagem, 
 Com a mala aberta esperando a arrumação adiada, 
 Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem, 
 Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado) 
 Senão saber isto: 
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto. 
 Grande é a vida, e não vale a pena haver vida, 

 Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar 
 Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem) 
 Acendo o cigarro para adiar a viagem, 
 Para adiar todas as viagens. 
 Para adiar o universo inteiro. 

 Volta amanhã, realidade! 
 Basta por hoje, gentes! 
 Adia-te, presente absoluto! 
 Mais vale não ser que ser assim. 

 Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro, 
 E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. 

 Mas tenho que arrumar mala, 
 Tenho por força que arrumar a mala, 
 A mala. 

 Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. 
 Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. 
 Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, 
 A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. 

 Tenho que arrumar a mala de ser. 
 Tenho que existir a arrumar malas. 
 A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte. 
 Olho para o lado, verifico que estou a dormir. 
 Sei só que tenho que arrumar a mala, 
 E que os desertos são grandes e tudo é deserto, 
 E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. 

 Ergo-me de repente todos os Césares.   
 Vou definitivamente arrumar a mala.   
 Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;  
 Hei de vê-la levar de aqui, 
 Hei de existir independentemente dela. 

 Grandes são os desertos e tudo é deserto, 
 Salvo erro, naturalmente. 
 Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! 

 Mais vale arrumar a mala.

Espelho - Mário Quintana

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste..."

Maria Bethânia - Tua (vídeo oficial do dvd) 2010

Relembrando às vezes, mas em frente!

... em alguns poucos sentidos me sinto renovada! Perceber, aceitar certas coisas, exigem maturidade (acho que nunca serei uma pessoa madura ... rsss) mas vou tentar com mais vontade. Ou com uma dose maior de clareza e de entendimento do que não posso mudar!
Não sou má, mas sou exagerada. E muitas vezes desnecessária.
É terrível, tenham certeza porque quando vejo, quando bate a lucidez, já foi!
... já falei, já fiz e ai o que me sobra sempre é mais uma noite sem sono, ou repleta de arrependimento. Passo cinco, dez dias, no mais absoluto conflito interno, pois não posso mudar o que aconteceu, e nessa hora apelo pro que existe de sagrado no universo, um sagrado sem nome que ta mais em mim, ou que mais satisfaz o meu ego (um ego muito fdp) do que o resto do mundo.
Sou uma pessoa estranha. Penso, sinto, sofro, porque acredito demais em alianças, e me perco por isso, perco meu sono e paz, pois enalteço algumas ações sem contar que elas são reflexo do momento, e que estão sujeitas à mudanças, e não se manterão além do que importa naquela hora.
Quando algo me fere, e como sou tola e ingenua muita coisa me fere, choro como criança, passo pela fase do "porque" como todo mundo, sinto raiva mas depois passa porque a alma, o coração vai acalmando, absorvo, penso, repenso, mastigo e engulo o acontecido, e sigo em frente.
No começo com dificuldade, mas sigo, cambaleando, relembrando as vezes, mas sigo. É a vida, e devemos, eu devo, aprender a aceitar ela assim, néh? ... não vou mudar nada mesmo!
Na verdade, e nunca quiz admitir esta possibilidade antes, acho que fazer terapia seria uma boa idéia ... sei lá, talvez eu deva entender que preciso mesmo crescer, e os psicólogos são tão bons em nos transformar em adultos. Eu sempre quiz ser o Peter Pan, acho que ainda é o meu conto favorito porque queria pra sempre, eternamente, ver o mundo, a vida, as pessoas com a ingenuidade de uma criança!
Não me encaixo no mundo dos adultos, porque no fundo, ou no fim de tudo o que quebrou não tem conserto, e as crianças acreditam que existe uma fábrica mágica, invisível no mundo (alguns chamam ela de Deus) capaz de consertar qualquer coisa.

E essa mágica não existe! ...