O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Entre o violoncelo e o cavaquinho: música e sujeito popular em Machado de Assis

O artigo discute a tensão entre a cultura erudita, a emergente cultura popular e a incipiente cultura de massas através da análise do estatuto da música na obra de Machado de Assis. Dedicando atenção especial a um conjunto de crônicas sobre o tema e aos contos "Um homem célebre" e "O machete", o artigo propõe que a obra de Machado foi a primeira reflexão literária sobre a música como cifra privilegiada da nacionalidade. Por Idelber Avelar com texto completo no link: 

http://seer.bce.unb.br/index.php/estudos/article/view/4010/3384

Música do filme Crash - No Limite

Nas profundezas

Você pensou que tinha todas as respostas
Que podia descansar seu coração
Mas algo aconteceu
Você não viu, agora
Você não pode se controlar

Agora você esta nadando perdido
Nas profundezas
Nas profundezas

A vida mantém seu coração em círculos
Até que você deixou ir
Até que você perceba seu orgulho e suba para o paraíso
E se liberte de você

Surpreendente...



O filme é surpreendente! Mostra o encontro de diferentes personagens nas ruas de Los Angeles: uma dona de casa e seu marido, um promotor público da alta sociedade, um lojista persa, um casal de detetives, ele afro-americano e ela latina que são amantes, um diretor de Tv e sua esposa afro-americanos, um mexicano, dois ladrões de carros, um policial novato e um casal de coreanos de meia idade. Todos vivendo em Los Angeles, cada um com sua própria história, e que nas próximas 36 horas irão se encontrar. Um filme que prende até o último instante e nos faz refletir a sociedade atual, ficamos perplexos diante da tela e nos perguntamos até que ponto nós nos conhecemos? Até que ponto pré-julgamos? Talvez Crash tenha a resposta. Falta tolerância? Saber viver com as diferenças ou aceitar as diferenças?

Ghetto - Trailer


Um filme emocionante! É uma produção que trata de uma forma diferenciada de um problema que já foi exposto à exaustão pelo cinema: a situação dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui o cenário é um guetto na Lituânia, durante o ano de 1942, onde os judeus são obrigados a sobreviver. Um oficial nazista, antes ator e músico de jazz, se apaixona por uma cantora e atriz judia que vive neste guetto. Ali, ele ordena que ela e seus companheiros montem uma peça de teatro. No princípio, os prisioneiros judeus se mostram resistentes para encarar a tarefa, mas com o tempo percebem que pode ser uma boa oportunidade para tentar levar um pouco de normalidade a toda essa situação e ainda arrumar um jeito de divertir seu sofrido povo. Aos poucos, eles escapam da censura e conseguem montar um espetáculo capaz de expressar sua terrível realidade.

Arte russa: Vrubel Michail

Mas você nunca quer perder



A vida é uma cachoeira
Nós somos um no rio
E um novamente depois da queda
Nadando através do vazio,
Nós escutamos a palavra,
Nós nos perdemos
Mas escutamos tudo?

Porque somos aqueles que querem jogar,
Sempre queremos ir,
Mas você nunca quer ficar,
Nós somos aqueles que querem escolher,
Sempre queremos jogar,
Mas você nunca quer perder.

Roda Viva com José Saramago (1997)

Adorei esta crônica


Tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo. É porque lá em casa a gente não podia falar nem diabo, que levava sabão, quanto mais... ah, no fim eu falo. Coisa do Teodoro, ele quem me contou, você sabe, marido depois de um certo tempo de casamento fala certas coisas com a mulher. O seu não fala? Pois é, e de novo tem um tempão que aconteceu. Lembra aquela história dos queijos? Igual. Demorou um par de anos pra me contar. O pessoal dele é assim, sem pressa. Tem uma história deles lá, que o pai dele, meu sogro, esperou 52 anos pra relatar. Diz ele que esperou os protagonistas morrerem. Tem condição? Mas o Teodoro — foi quando a gente mudou pra casa nova — teve de ir nas Goiabeiras tratar um marceneiro e passou, pra aproveitar, na casa da tia dele, a Carlina do Afonso, e encontrou lá o Gomide. Tou encompridando, acho que é só por medo do fim, mas agora já comecei, então. Então, diz o Teodoro, que o Gomide tirou do bolso do paletó uma trouxinha de palha de milho, cortadas elas todas iguaizinhas e amarradas com uma embirinha da mesma palha. Escolheu, escolheu, pegou uma bem lisa e bem branquinha, tirou o canivete do outro bolso, lambeu a palha pra lá, pra cá, e ficou um tempão lhe passando firme a lâmina, do meio pras pontas, de ponta a ponta, entremeando com lambidas. Depois, ainda segurando a palha entre os dedos, foi a hora de tirar e picar o fumo de rolo bem fininho. Ia picando e pondo na concha da mão. Acabou, guardou o rolo e ficou socavando o fumo na mão com a ponta do canivete. Depois pegou a palha, mais uma lambida e foi pondo nela o fumo, espalhando ele por igual na canaleta formada, pressionando bem pra ficar bem firme. Deu mais uma lambida na parte mais próxima do fumo e com os polegares e indicadores foi enrolando o cigarro devagarinho, uma enrolada e uma lambida, uma enrolada e uma lambida. Com o canivete dobrou uma das pontas para o fumo não escapar, tirou a binga do bolso, acendeu e pegou a pitar. Agora é que vem, ai, ai. Teodoro falou que o tempo todo da operação ele não despregava o olho daquilo. Disse que nem sabe o que tia Carlina arengava, só punha sentido no Gomide fazendo o pito. Diz ele que foi uma coisa tão esquisita — esquisita, não —, tão encantada que ele ficou de pau duro. É isso. Falou também que ficou doido pra sair dali, comprar palha, fumo de rolo e repetir tudo igualzinho ao Gomide. Eu entendo. Quando conheci o Teodoro, ele fumava e eu achava muito emocionante. Tenho muita saudade de quando não existia essa amolação de cigarro dar câncer, nem de mulher ser magra. A gente tinha mais tempo para o que precisa, não é mesmo? Será que faz mal mesmo? Colesterol, depois de tanto barulho, estão falando que já tem do bom. Qualquer dia vou pedir ao Teodoro pra dar uma fumadinha, só pra fazer tipo.

Adélia Prado

ESCOLA DA PONTE

http://4pilares.net/text-cont/pacheco-escoladaponte.htm

http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0043.asp
Frase final de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis, 1881: "Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria".