O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Somente estou só quando me faltam palavras...

O Leitor (2009) Trailer Legendado Oficial

A Um Ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

(Poema de Carlos Drummond de Andrade pra um Amigo ausente)

Grandes - Álvaro de Campos

 
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto. 
 Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto 
 Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo. 
 Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes 
 Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, 
 Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. 
 Grandes são os desertos, minha alma! 
 Grandes são os desertos. 

 Não tirei bilhete para a vida, 
 Errei a porta do sentimento, 
 Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. 
 Hoje não me resta, em vésperas de viagem, 
 Com a mala aberta esperando a arrumação adiada, 
 Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem, 
 Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado) 
 Senão saber isto: 
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto. 
 Grande é a vida, e não vale a pena haver vida, 

 Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar 
 Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem) 
 Acendo o cigarro para adiar a viagem, 
 Para adiar todas as viagens. 
 Para adiar o universo inteiro. 

 Volta amanhã, realidade! 
 Basta por hoje, gentes! 
 Adia-te, presente absoluto! 
 Mais vale não ser que ser assim. 

 Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro, 
 E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. 

 Mas tenho que arrumar mala, 
 Tenho por força que arrumar a mala, 
 A mala. 

 Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. 
 Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. 
 Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, 
 A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. 

 Tenho que arrumar a mala de ser. 
 Tenho que existir a arrumar malas. 
 A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte. 
 Olho para o lado, verifico que estou a dormir. 
 Sei só que tenho que arrumar a mala, 
 E que os desertos são grandes e tudo é deserto, 
 E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. 

 Ergo-me de repente todos os Césares.   
 Vou definitivamente arrumar a mala.   
 Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;  
 Hei de vê-la levar de aqui, 
 Hei de existir independentemente dela. 

 Grandes são os desertos e tudo é deserto, 
 Salvo erro, naturalmente. 
 Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! 

 Mais vale arrumar a mala.

Espelho - Mário Quintana

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste..."

Maria Bethânia - Tua (vídeo oficial do dvd) 2010

Relembrando às vezes, mas em frente!

... em alguns poucos sentidos me sinto renovada! Perceber, aceitar certas coisas, exigem maturidade (acho que nunca serei uma pessoa madura ... rsss) mas vou tentar com mais vontade. Ou com uma dose maior de clareza e de entendimento do que não posso mudar!
Não sou má, mas sou exagerada. E muitas vezes desnecessária.
É terrível, tenham certeza porque quando vejo, quando bate a lucidez, já foi!
... já falei, já fiz e ai o que me sobra sempre é mais uma noite sem sono, ou repleta de arrependimento. Passo cinco, dez dias, no mais absoluto conflito interno, pois não posso mudar o que aconteceu, e nessa hora apelo pro que existe de sagrado no universo, um sagrado sem nome que ta mais em mim, ou que mais satisfaz o meu ego (um ego muito fdp) do que o resto do mundo.
Sou uma pessoa estranha. Penso, sinto, sofro, porque acredito demais em alianças, e me perco por isso, perco meu sono e paz, pois enalteço algumas ações sem contar que elas são reflexo do momento, e que estão sujeitas à mudanças, e não se manterão além do que importa naquela hora.
Quando algo me fere, e como sou tola e ingenua muita coisa me fere, choro como criança, passo pela fase do "porque" como todo mundo, sinto raiva mas depois passa porque a alma, o coração vai acalmando, absorvo, penso, repenso, mastigo e engulo o acontecido, e sigo em frente.
No começo com dificuldade, mas sigo, cambaleando, relembrando as vezes, mas sigo. É a vida, e devemos, eu devo, aprender a aceitar ela assim, néh? ... não vou mudar nada mesmo!
Na verdade, e nunca quiz admitir esta possibilidade antes, acho que fazer terapia seria uma boa idéia ... sei lá, talvez eu deva entender que preciso mesmo crescer, e os psicólogos são tão bons em nos transformar em adultos. Eu sempre quiz ser o Peter Pan, acho que ainda é o meu conto favorito porque queria pra sempre, eternamente, ver o mundo, a vida, as pessoas com a ingenuidade de uma criança!
Não me encaixo no mundo dos adultos, porque no fundo, ou no fim de tudo o que quebrou não tem conserto, e as crianças acreditam que existe uma fábrica mágica, invisível no mundo (alguns chamam ela de Deus) capaz de consertar qualquer coisa.

E essa mágica não existe! ...