O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

terça-feira, 8 de março de 2011

Mulheres negras:
ROSÂNGELA ROSA PRAXEDES
Nos estudos sobre gênero uma das tendências atuais mais promissoras indica que devemos pensar o feminino não como uma essência natural, mas como sendo constituído em consonância com uma estrutura que só pode ser compreendida se for contextualizada e se forem consideradas outras categorias classificatórias como classe, raça e etnia.
Segundo Judith Butler (2003: 20) “…se tornou impossível separar a noção de “gênero” das intersecções políticas e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida.”
Em razão disso, uma das maneiras de compreendermos a situação da mulher negra no Brasil é nos orientarmos através dos indicadores que apontam para a sua condição sócio-econômica e ocupacional.
A observação da existência de desigualdade racial no mercado de trabalho pode ser comprovada através de dados do DIEESE, entre outros órgãos de pesquisa. Como já é mais do que sabido, os efeitos do preconceito no mercado de trabalho penalizam indivíduos negros que, em consequência, recebem rendimentos inferiores aos dos brancos.
Quando estudamos a relação gênero e raça, percebemos que o homem negro ocupa um patamar abaixo do da mulher branca quanto ao rendimento salarial. Mas as mulheres negras se encontram ainda mais abaixo na pirâmide ocupacional: recebem os menores salários mesmo que em muitos casos ocupem a chefia de sua família:
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A partir da tabela acima pode-se concluir que as relações interétnicas entre brancos e negros expressam uma complementaridade: o preconceito e a discriminação contra as trabalhadoras negras servem para designá-las às posições mais desprestigiadas e mal remuneradas.
Por outro lado, predominam nas posições que concentram maior prestígio, poder e renda aqueles trabalhadores que mais se aproximam do estereótipo de macho branco, descendente de europeu com religião cristã.
Pode-se dizer que para a população negra a superação das situações de discriminação constitui-se em um problema que podemos associar a uma redefinição de sua própria identidade. Desde o processo da Abolição no Brasil, há 115 anos, a identidade da mulher negra passa por um processo de redefinição. Ao resistir organizadamente ela rompe com as barreiras que a circunscrevem a determinados espaços e se redescobre como cidadã.
Ao pensarmos a situação da mulher negra no Brasil atual temos que levar em consideração que em uma sociedade democrática o respeito às diferenças de raça, etnia, gênero, orientação sexual, aparência física não é abandonar cada segmento à sua própria sorte mas questionar as relações de poder que hierarquizam as diferentes posições.
Falando sobre a diferença entre o perdão da pena, o perdão humano e o perdão de Deus.
São justiças diferentes. E entre elas a humana é a mais hipócrita.
Quem comete um crime deve sim ser punido, mas a hipocrisia fica por conta da punição eterna que todo homem cristianizado traz dentro de si como uma medida real de enxergar o mundo.
Vive-se sempre preocupado com a culpa do outro. Num esforço sobre humano de tornar o outro, seja este outro qualquer um, a merda do mundo.
Acredito em arrependimento, e por mais que só se perca a confiança uma vez, prefiro sempre achar que o arrepender-se é verdadeiro, e que passa por um processo longo de perda do mais importante pro homem, sua individualidade e liberdade.
E se não, quem sou eu pra apontar?
Não entendo uma punição eterna em face a bondade que vejo na figura de Deus. Pra mim é desconcertante conceber um Deus tão mau. Incapaz de perdoar. Um Deus criador de uma figura pensada pra fazer o mal eternamente como o Diabo, não pode ser o Deus que me dá tantas novas oportunidades de mudar os rumos da conversa a cada dia.
Acreditar em um Cristo de madeira, se arrepender de pecados diante de uma imagem, talhada pra te fazer sentir-se pecador, não tem valor nenhum pra mim. Vejo-me e sinto-me como um santo de pau oco, que negocia seu arrependimento, mas que nunca se arrepende pois volta a tropeçar na pedra ínfima do não poder perdoar-se a si mesmo e ao outro.
Deus não acha nada. E isso é a agonia que maltrata o homem. Como se submeter a uma figura, idéia, ser, ou criador que nem parece tá olhando pra mim?
Por mais que ore, eu homem, ainda acho que não sou digno de perdão só porque este Cristo talhado, sofrendo e morrendo por mim, reflete a justiça oca de toda sociedade.

Elogio do Revolucionário

Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.

Interroga a propriedade:
De onde vens?
Pergunta a cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
se senta a insatisfação.
À comida sabe mal e a sala se torna estreita.
Aonde o vai a revolta
e de onde o expulsam
persiste a agitação.

___________________Bertold Brecht