O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

domingo, 25 de setembro de 2011

20/09 ... o que escrevo aqui não muda nada! ... nem quero que mude!

Sempre pensei que se escrevo tenho de escrever com o coração. Hoje, e neste momento na verdade, vejo que isto é muito difícil, e talvez estive mentindo pra mim mesma este tempo todo, pois palavras, mesmo as infelizes, brotam muito mais da razão, mesmo uma razão sem clareza, ou escrúpulo, do que do coração. Hoje, meu coração, este coração destruído que não importa qual seja, de amigo ou inimigo, não consegue falar. Estando, neste momento da minha vida, minha razão tão abalada quanto meu coração, e sabendo mais do que ontem que a insanidade gera conflito, dor, distância e miséria em mim e à minha volta, preciso, mais do que posso, tentar falar pela razão. 

Como vou escrever? Quero, preciso escrever porque se não escrever eu não durmo, não penso, não sinto a vida, que, aliás, hoje ta passando mais lenta e inerte do que nunca, não sobrevivo se não conseguir rasgar a minha alma em palavras, mesmo que estas não sejam jamais compreendidas nem por mim.

Em algum lugar eu li que ser mesquinho é pensar só em si, e sendo assim, portanto, uma atitude mesquinha é aquela que não considera os outros.

Sinto vergonha da minha mesquinhez, que na melhor das definições agora se faz amarga. Uma mesquinhez que se fez fruto da minha insanidade, temporária ou não, da minha falta de razão e que abalou, destruiu o que pensei ser inabalável.

Mas, apesar de toda, e qualquer consciência que tenha sobre meus erros, não posso não ver, ou não dizer o quanto é asfixiante ver o como nos repetimos.

Nós sempre acreditamos que só nós temos direito a reação, e que só nossa reação pode ser desproporcional de forma legítima, pois cabe ao outro conter-se, e assim, esperamos que só a reação do outro seja uma reação pensada, medida na compaixão que se deve ter pela vida. Tornamo-nos incapazes de compreender, de nos colocarmos no lugar do outro. E de assim, perdoar. 

E o outro insensato, movido na sua raiva, na sua decepção, e modificado na sua dor, por sua vez pensa que aquilo que pra ele é inabável, é, ou será inabável eternamente, e que não será julgado nunca pela sua mesquinhez ou falta de sanidade.

Em resumo, na vida vivemos perdendo, e muitas vezes em meio às nossas perdas, perdemos também a razão, mas tudo bem porque de certa forma perdemos tudo o que importa, inclusive e muitas vezes o riso, o momento e a paz. 

Tristemente, ou humanamente, nesta vida mais perdemos do que ganhamos, porque na primeira curva, tropeção, pedra no caminho, escorregão, falta, julgamos que ser ponderado, ou não ser mesquinho só depende dos outros e não de nós.

Não precisamos parar um momento que seja, e exercitar a alma no esforço de analisar o quanto nos foi dado conhecer de alguém ou o quanto este alguém nos foi leal, mesmo que não tenhamos inumeras vezes correspondido à sua lealdade, tantas vezes até canica, pra se saber se este alguém merece nossa compaixão nas suas faltas e nos seus erros. Nos seus destemperos tão comuns nesta vida sufocante. Não depende de mim mais porque o mesquinho passa a ser o outro, e nada mais importa.

Ser mesquinho é não dividir. Sou mesquinha, penso e ajo mesquinhamente muitas e muitas vezes pois sou humana. Mas mesmo com minha mesquinhez inata, eu sempre dividi meu riso e alegria, minha alma, meu coração, meu conhecimento, minha opinião, meu sono, meus medos e dores, meu receio, minhas perdas e vitórias, meu sonho e vida com quem conseguiu tocar minha alma, e que estranhamente, sempre existirá  em mim.

Sou mesquinha, pois estou viva e sou um ser em eterna construção. O homem se faz no conflito. E eu mais do que todos vivo, por ser humana, e por pensar demais, em um conflito constante pra não me deixar abater pela hipocrisia e miséria das faltas e mentiras dos outros.

Nunca nada doeu tão forte dentro de mim como neste momento, que se fecho os olhos, sinto meu peito apertado, e meu estômago gritando no compasso da minha cabeça que não pára de pensar pela tristeza que não consigo sufocar. A única saída que vejo, pra conseguir esquecer, e diminuir o meu vazio é me esconder do mundo, me fechando pra sempre, e fugir da estranha mania que tenho de tentar consertar meus erros inescrupulosos e imperdoáveis!

"Por Onde Andei - Nando Reis"

Cordel do Fogo Encantado - Dos três mal-amados / Palavras de Joaquim