O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

... preciso saber o que resta!

Como preciso escrever as extremas realidades que tenho, que vejo ou sinto, e como escrever é exorcizar a minha alma, preciso colocar neste blog, que nunca poderá deixar de ser assim, as tantas interrogações e palavras urgentes que me puxam pro chão.
Estava muito bem com meus livros, músicas e poesias, mas tenho mania de olhar em volta, e também teimo em dormir, e com isto sonhar! Meus sonhos, como já disse antes são sempre tensos, e o de hoje, foi estranhamente, leve.
Isso me perturba porque não gosto de me acostumar com as coisas e ficar sem elas. Demoro demais pra me adaptar às mudanças! Eu até as aceito, e me calo sempre que a vida se torna mais urgente do que minha necessidade de existir, mas sempre aquelas mudanças que não desejo e que me deixam sem sentir o chão, me perturbam imensamente.
Sou tão humana, pura e incompleta!
Não lembro com o que sonhei, mas me perguntei, como tenho quase todos os dias ou horas do dia me perguntado, o que restará amanhã, se hoje treme em mim uma urgência de me questionar, uma urgência amarga e lúcida dos meus erros? ... o que restará amanhã, se hoje, não encontro respostas ou justificativas pra deixar de sentir certa tristeza em olhar o mundo? Uma tristeza que não tenho como substituir!
A vida foi durante muito tempo um sucessivo correr de dias, e de lembranças, de erros e pessoas, e nada que olhava despertava meu respeito, ou atenção, e num certo dia acordei lembrando de um riso que devia existir em todos os seres.
Um riso leve e solto, destravado, que acorrentou a minha alma, e me fez olhar pra dentro de mim e desejar saber o porque eu não ria assim, um riso que ultrapassou toda a compreensão que minhas filosofias tinham, que purificou todas as minhas ideologias em uma realidade pérfida, mas necessária.
Risos assim deviam ser proibidos! Se olho em volta e vejo que a vida é, e sempre será um sucessivo ir e vir sem sentido, sem fé, sem destino e sem bondade, sem justiça ou lealdade, risos como este deviam ser proibidos.
Andei um certo tempo, que talvez não devesse ter andado, aceitando melhor as coisas que via, ou que não podia mudar, e matei muito do espírito questionador que trouxe para esta vida, e passei a rir um pouco mais também. Este com certeza foi o exato momento em que me perdi de mim pra ver as coisas e pessoas como nunca tinha visto, e foi então que deixei de ser uma concha. Hoje, querer voltar sem conseguir, a ser uma concha, está me matando um pouco a cada dia.
Ontem, sai de uma aula com os olhos cheios de lágrimas, pois, percebi, constrangida, que alguns alunos não sabiam ler e escrever, e senti toda a maldita impotência que este mundo perverso me impõe, e que eu na minha individualidade, acabo por alimentar cada vez que só considero o meu sentir, a minha vontade ou falta.
Pensei que tenho vergonha de existir sem conseguir mudar nada! Na verdade eu não pensei, eu me lembrei disso, e como não tenho mais como me purificar desta culpa, eu senti mais uma vez, pesar a minha inoperância ... e assim, me perguntei o que me resta? ... o que pode ter sentido agora, que não consigo seguir vendo as coisas que me atacam sem tristeza?
Aquele sorriso que muitas vezes ressoa dentro de mim, meu sonho leve, e a realidade que bate na minha cara todos os dias, me mostraram que sou pequena demais diante do mundo.