O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

... hoje! Acho que isto é uma oração!

Hoje, eu liguei pra minha mãe! Ouvi a voz dela, quase irreconhecível, pois, fazia muito tempo que eu não ligava, e depois desliguei! Chorei quase a tarde toda! Queria tanto voltar pra casa. A casa que larguei aos dezessete anos!  ... e tudo está como ontem! Cigarro atrás de cigarro, insônia, solidão quase insuportável ... culpa e raiva por tantas e tantas vezes não ter conseguido dizer não! ... nunca consigo deixar uma pessoa sem a minha atenção, sem uma resposta, com alguma dúvida, e nunca sou nada pra ninguém!
Porque me doei, ou melhor, porque andei lado a lado?
Ninguém nunca faz isso!
... porque me dou tanto para as pessoas? 
Só sei que voltei a querer saber novamente qual o sentido de toda esta vida amarga e sozinha!
Tão diferente de todos!
Não vai dar pra ser feliz! Dessa vez não!
To largando tudo! ... voltando pra casa que tenho hoje, desistindo de amanhã, porque não consigo acreditar mais!
A revolução e a felicidade são as idéias mais mentirosas que nos vendem! Quem não acredita não revoluciona nada e quem está vazio jamais será feliz!
Quando a gente perde o que quer que seja, quando decide que perdeu e desisti de lutar, todas as nossas perdas são potencializadas.
Desde os meus 14 anos, quando perdi meu pai, eu tive vontade de morrer todos os dias. Foi por isso que meu pessimismo se estabeleceu e se definiu neste tempo como parte da minha personalidade. Às vezes irônico, às vezes sórdido! Tinha me esquecido como é ter esta vontade! Tinha esquecido como é acordar de manhã sem ter motivo pra levantar. Tinha esquecido a dor de todas as dúvidas que trago no estômago, o gosto amargo do não "ver sentido", e me esqueci do medo que tinha antes, de quando fechava os olhos e não percebia qual a razão da vida que pulsava em mim.
Minha tristeza ta me engolindo e estou fazendo o caminho de volta de tudo o que tinha construído, e derrubando tudo que se tinha feito verdadeiro. Sinto raiva e desesperança em cada esquina que meu ônibus pára, nas quais meus olhos vêem hoje, que nunca nada vai mudar porque deixei de acreditar em toda vida que tinha aprendido a respeitar nos últimos tempos.
Tantos livros ... tantas palavras pra nada mais poder mudar porque não consigo acreditar! Quando deixei ou porque deixei que a vida me fizesse adulta tão rápido?
... queria voltar a ser criança!  Andava tão bem de bicicleta! Subia em árvore e jogava bolinha de gude como um moleque! É tão fácil ser homem neste mundo machista no qual tudo é descartável quando não tem mais utilidade!
Lembro como empinava pipa ... mas, tola, decidi que queria crescer, ser adulta e saí de casa! Saí de casa pra me doar pra um mundo que não me enxerga! No fim, de tudo, em toda situação que vivi, vejo que nunca encontrei pessoas diferentes umas das outras, e que só o que sempre resta é eu mesma lembrando que devia ter sido menos dedicada aos que cruzam meu caminho!
Quando quiz erroneamente crescer deixei minha mãe, meus irmãos, neste tempo meu pai já estava longe, e nem lembrava mais de mim ... é tão triste ser esquecida! ... é tão dolorido lembrar a cada instante que fecho os olhos que nada valeu a pena! ... ou que nada valerá a pena amanhã! Dessa vez tá quase sem sentido tentar aguentar o compasso da vida!
Esta não tem razão de ser!
Deus, se é que eu acredito nele, pra além da minha mania de me anular pelos outros, de me fazer presente, ser necessária, me doar, dividir ... olha de onde estiver por mim, pra que eu possa dormir hoje!