O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

domingo, 2 de outubro de 2011

O teatro mágico - Ana e o Mar (com letra)

A História, afinal, é como uma ninfa que vislumbramos banhando-se entre as folhas: quanto mais mudamos de perspectiva mais é revelado. Se queremos ver seu todo, temos de nos mover e escorregar entre vários pontos de vista diferentes.

(Felipe Fernández-Armesto, Truth: a history)

O Anjo Mais Velho - Teatro Mágico

O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"


Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar


Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar


Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia o verbo a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto...

Depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só...


Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar...

O Teatro Mágico - O Anjo Mais Velho

Ao Cristo crucificado

Não me move, Senhor, para querer-te,
o céu que me hás um dia prometido;
nem me move o inferno tão temido,
para deixar por isso de ofender-te.



Move-me tu, Senhor, move-me o ver-te
cravado nessa cruz e escarnecido;
move-me no teu corpo tão ferido
ver o suor de agonia que ele verte.



Move-me ao teu amor de tal maneira,
que a não haver o céu eu te amara
e a não haver o inferno te temera.



Nada tens a me dar porque te queira
pois se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que quero te quisera.



(Poesia atribuída à Teresa D' Ávila, 1515-1582 e com tradução de Manuel Bandeira, 1886-1968)
Há no homem uma fratura profunda: somos um poço que contempla o céu.

Leandro Karnal - Temor e Tremor - CPFL Cultura

Ate o Fim - Chico Buarque e Ney Matogrosso

Maria Bethânia - Apesar de Você

Ao preparar aula pro Curso de Formação do Estado ... as vezes, acho que devia arrancar minha cabeça!


Leis do Código de Hamurabi

Se um mercador pediu emprestado trigo ou prata a um mercador e não tem trigo ou prata para pagar, mas tem outros bens, deve mostrar tudo o que tem perante testemunhas, e dará do que possuí ao seu prestamista. O mercador prestamista não pode recusar.
Se um homem tomar uma mulher como esposa, mas não tiver relações com ela, ou estabelecer um contrato, esta não será considerada esposa deste homem.
Se um homem tomou uma criança para adotar com o seu próprio nome, e a educou, este filho adotivo não pode ser reclamado.
Se um homem cegou o olho de um homem livre, o seu próprio olho será cego.
Se cegou o olho de um escravo, ou quebrou-lhe um osso, pagará metade do seu valor.
Se um homem tiver arrancado os dentes de um homem da sua categoria, os seus próprios dentes serão arrancados.
Se um médico tratou, com faca de metal, a ferida grave de um homem e lhe causou a morte ou lhe inutilizou o olho, as suas mãos serão cortadas.
Se um médico tratou, com faca de metal, a ferida grave de um escravo e lhe causou a morte, ele dará escravo por escravo.
Se um construtor fizer uma casa e esta não for sólida e caindo matar o dono, este construtor será morto.
Se alguém enganar a outrem, difamando esta pessoa, e este outrem não puder provar, então aquele que enganou deverá ser condenado à morte.
Se uma pessoa roubar a propriedade de um templo ou corte, ele será condenado à morte e também aquele que receber o produto do roubo deverá ser igualmente condenado à morte.
Se uma pessoa arrombar uma casa, deverá ser condenado à morte na parte da frente do local do arrombamento e ser enterrado.
Se uma pessoa deixar entrar água, e esta alagar as plantações do vizinho, ele deverá pagar 10 gur de cereais por cada 10 gan de terra.

(Secretaria de Estado da Educação - SP).
(Coletânea de documentos históricos de 5ª a 8ª séries, p. 21.)


Preparando aula pro Curso de Formação do Estado me deparei com este texto em um livro que tinha em casa, e claro pensei que este texto aliado à uma boa aula de História (que eu provavelmente nunca vou dar) sobre a sociedade mesopotâmica, e o contexto social, político e econômico destes primeiros grupos humanos, seria esclarecedor para se estudar toda a origem da desigualdade que ferve na minha cabeça.
O maldito senso de propriedade e de deveres que balisa as relações humanas. Os condicionamentos que me impõem a idéia de se cercar um pedaço de chão e de, com isso, se instituir as diferenças, que nos leva a banalizar as relações, os amigos, a vida.
Propriedade do senhor sobre o escravo, do fazendeiro sobre o chão (mesmo que improdutivo), do homem sobre a mulher, do explorador sobre o explorado, do Estado sobre as leis, da Igreja sobre a idéia de Deus.
Perversões inoperantes das relações que deveriam ser humanas e humanizadas.



Se queres transformar-te num homem de letras, e quem sabe um dia escrever Histórias, deves também mentir, e inventar histórias, pois senão a tua História ficaria monótona. Mas terás que fazê-lo com moderação. O mundo condena os mentirosos que só sabem mentir, até mesmo sobre coisas mínimas, e premia os poetas que mentem apenas sobre coisas grandiosas.

(Umberto Eco, Baudolino

... um pouco do que preciso!

Tenho de conseguir deixar de precisar que cuidem de mim, e que corrijam meus erros, defeitos, e que me ensinem a ser melhor! Minha cabeça nunca pára e eu não tenho ninguém pra quem contar tanta coisa que gira dentro dela! Preciso sempre de conversas intermináveis!
... filosóficas! Conversa de boteco mesmo!
... e de atenção!
Meu ego é a minha mais perversa maldade!
Muitas vezes, pra mim pelo menos, o silêncio pode ser libertador ... mas só um silêncio voluntário!
Quando eu era mais jovem e acreditava em Deus, sem pensar ou questionar, achava que conversando com as estrelas seria ouvida por Ele!
Sentava no meio de um tronco em uma chácara que guardei dentro de mim (as vezes, penso que guardo coisas demais em mim), ou no muro de uma casa que era alto, e que me fazia ter a sensação de estar mais perto do céu, falava com alguém sem saber direito quem era, olhando pras estrelas!
Passei muito tempo calada depois nesta vida, com muita coisa pra conquistar, ou me preocupar, e nunca mais tinha tido ninguém ou nada pra me ouvir! ... e até rir de mim!
Uma resposta pode ser mais libertadora que muitas revoluções! Passei a amar a psicologia, até a reversa!
Uma coisa chata que chamo de insônia tomou o lugar das estrelas que me ouviam! ... e hoje, um cigarro, a minha solidão e a certeza de que devo fechar os olhos cada vez que tiver vontade de falar ou de questionar, pra poder ser igual a todo mundo, porque isto é certo, matou minha arrogância!
... e fez minha insônia voltar com aquele monte de questões que nunca mais poderei confessar pra ninguém, já que não tenho mais ingenuidade pra acreditar que as estrelas me ouçam!
O que tem me atormentado muito de uns tempos pra cá, e que realmente é uma conclusão cruel, é ver como estou cercada de gado! ... o que me atormenta não é esta constatação, mas sim ser diferente deste gado!
A qualidade que mais admiro em uma pessoa, ou melhor, a única qualidade que invejo em alguém é a humildade! ... só fui humilde umas poucas, raras vezes, e sempre pra pedir desculpas, mas como quase sempre a vida é mais urgente do que eu, do que o meu ego e o meu fluxo, sou levada a me fechar mais ainda no meu desespero ... e na minha costumeira insônia!
... amanhã será outro dia!

Maria Bethânia canta "O doce mistério da vida"