O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ah, mundo ignorante! Se soubesses o tanto de sonho e desilusão que trago em mim, saberias que tua ira e tua compaixão não movem meu querer ... não me dizem nada!
Sou eterna, perdida e improvável!
Se soubesses o quanto sou livre ... e o quanto estou presa nas minhas lembranças saberias que estou além de você, mundo!
Muito acima de você!
Tão acima ...
Tão além de você ...
que não ouso a vergonha de nomear minha ilusão!
... teu olhar incisivo e muitas vezes disfarçado ainda vibra na minha insônia ...
E se vejo que me buscas ... sinto certa tontura, e meu estômago geme! Fecho os olhos para lembrar e não lembrar!
Embora queria sentir seus olhos, a me moldar, construir,
... eu sinto medo, frio, fome ... e um buraco embaixo de mim à me engolir! Sinto a tua solidão ... por mim e por ti, mundo ...
E não consigo ir adiante! Não mais! Nunca mais!!! 

sábado, 2 de julho de 2011

O estranho é que hoje é mais um dia comum ...

Tenho muitas coisas a dizer e nem sei quase sempre se é algo sensato a se fazer, e esta dúvida é algo com a qual nunca conseguirei conviver, pois, não tenho nenhum senso de utilidade ou de propriedade que me faça capaz de manter uma opinião sobre o mundo que seja constante. 
Sinto saudade de um diário que mantive durante dois anos, dos meus 13 aos 15 ... mas hoje seria algo inviável, pois, com o tempo certos pensamentos nunca podem ser manisfestados porque temos muitas coisas a preservar.
Na verdade nem essa frase poderia ser manifestada aqui desse jeito, não porque possa parecer exposição, mas porque todo mundo está sempre buscando um algo qualquer que possa apontar e condenar no outro. Quem a ler com certeza pensará que estou falando de um desejo secreto sobre um pecado qualquer, e sabe porque? Porque a vida e as pessoas sentem e são assim. Relacionam sempre tudo da forma errada, ou relacionam sempre com a pequenez característica da humanidade pobre que arrastam pela vida afora.
Criamos uma imagem que pensamos dever ser preservada, muitas vezes perante só algumas pessoas, mas pela qual matamos, morremos e muitas vezes nos anulamos.
Sejamos francos na medida em que pudermos ser, e admitamos que estamos em relacionamentos que precisamos preservar para a nossa felicidade de fazermos parte do "todo social", e para tanto muitas vezes não confessamos aquele palavrão que vem à cabeça na hora de uma briga, ou aquela risada que contemos sobre o comportamento ou jeito de ser de um alguém que pode até ser um amigo, e que não aprovamos. 
Seguimos em frente, calando, camuflando e assim vamos indo não sei pra onde negando a nós mesmos mas preservando amigos, filhos e pais da realidade dos nossos defeitos e da nossa parte humana.
Faz parte de uma certa natureza conduzirmos as coisas dentro de um quase "conto de fadas", pois quem olha de fora vê que está tudo bem, e passa por você e segue sem te criticar, apontar ou analisar. Queremos sempre coisas assim dos nossos amores, familia e amigos, coisas amorfas, pois, ninguém nunca lembra que nos relacionamos com pessoas capazes de ter opiniões próprias sobre nós e não sabemos lidar com as críticas que poderiam vir destas pessoas. Requer muito desprendimento entender uma crítica e é mais fácil manter as personagens que acumulamos ao longo do caminho.
Por exemplo, muitas vezes acordo de manhã e penso que queria estar acordando em outra época, ou em outro lugar. Mas isso não quer dizer que estou acordando no lugar errado ou que não estou feliz, mas que naquele momento estou questionando o rumo que as coisas tomaram. E a verdade que ninguém admite é que todo mundo sente isso, ou pensa assim muitas vezes. É normal e humano questionar os rumos. Observamos demais e nos enganamos demais também. Criamos personagens pra conseguirmos encarar o que para mim seria a insensatez da vida com um mínimo de dignidade, para conviver com tudo aquilo que a vida e o mundo nos cobra. A vida é assim e pronto, quando você cresce, no sentido de virar adulto ou de se estar sozinho, nunca mais somos quem somos com todas as pessoas que conhecemos.
Sinto saudade de tanta coisa ... de ser criança ... de olhar as estrelas só por olhar e não porque estou nostalgica ou depressiva. Até isso é estranho, pois em nenhum dia comum nos apercebemos das estrelas, e elas estão lá todos os dias mas só são lembradas nos dias tristes. Mas deixemos isso pra lá, pois é assunto pra outra hora.
Sinto saudade de ser livre, e de não ter que ficar o tempo todo policiando minhas atitudes, palavras, gestos e emoções. Lembro que fui uma adolescente completamente maluca, lembro que vivia cada momento como se fosse único e sem me preocupar com o outro dia (e hoje muitas vezes me pego fazendo isso quase sem querer), me lembro que nunca, nem sequer uma vez nesta época parei pra escolher a palavra ou a pessoa certa. Lembro de ter sido dona de uma liberdade de viver e de agir que nunca mais conseguirei sentir e acho que é desta lembrança, que hoje se tornou distante e variável, que nasceu o que é esta quase nostalgia, esta saudade entrecortada deste tempo em que fui ou melhor, era livre totalmente, livre principalmente de mim e das posturas e máscaras que fui acumulando.
Quase todos os dias me ressinto pela hipocrisia social à qual me submeto. Tenho consciência disso, mas ainda assim, na maior parte das vezes, escolho as palavras porque em um momento qualquer me disseram pra parar de procurar o pior da vida, do mundo e das pessoas. Me classificaram como depressiva e negativa por não me render a um certo "oba-oba" natural.
Fecho os olhos e penso realmente no quanto é mais fácil usar uma máscara, e ter só uma ou duas pessoas que te conheçam pelo avesso do que se expor só pra legitimar um incompreendido e criminalizado direito de opinar doa a quem doer.