O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cenas do palco russo


Na entrevista que nos cedeu Arlete Cavaliere, ensaísta, tradutora e professora de teatro, arte e cultura russa da USP, e uma grande especialista na obra de Nikolai Gogol, tivemos a chance de nos aproximar um pouco desse que foi um dos mais estranhos e geniais autores que a Rússia já produziu. Esse grande “mentiroso”, que nos faz rir um riso “amargo”, “entre lágrimas”, da tamanha incoerência que nos define, mesmo depois de quase 160 anos de sua morte, continua a nos encantar e a nos assombrar, mas, afinal, como ele próprio nos lembra em “O Inspetor Geral”: “A culpa não é do espelho se a cara é torta”. De Gogol passamos para um dos maiores teóricos e encenadores do teatro russo, Konstantin Stanislavski, um homem alto e sorridente, com uma fé inabalável no ator e na vida, que mudou os rumos da dramaturgia russa e mundial, livrando o ator dos velhos cacoetes da atuação − com o imenso arsenal, prático e teórico, de Stanislavski, o ator passa a representar “partindo de si mesmo” e da sua imaginação e, ao mesmo tempo, num processo de criação conjunto. E, por fim, abusando um pouco da paciência e do cuidado da entrevistada, ainda pedimos uma palhinha do teatro russo contemporâneo, e, então, soubemos que estamos sob o efeito de uma espécie de “poética do feio”. Para também não abusar da paciência do leitor com uma longa introdução, o melhor mesmo é seguir adiante e conhecer por si só as palavras de Arlete Cavaliere.

Na íntegra em:

O racismo não cordial do brasileiro


Por Mario Sergio
Neste final de ano pude testemunhar e viver a vergonha dessa praga do racismo aqui em nossa multicultural São Paulo. E com pessoas próximas e queridas. Não dá para ficar calado e deixar apenas o inquérito policial que abrimos tomar conta dos desdobramentos desse episódio lamentável e sórdido.
Na sexta feira, 30, nossos primos, espanhóis, e seu pequeno filho de 6 anos foram a um restaurante, no bairro Paraíso (ironia?) para almoçar. O garoto quis esperar na mesa, sentado, enquanto os pais faziam os pratos no buffet, a alguns metros de distância. 
A mãe, entre uma colherada e outra, olhava para o pequeno que esperava na mesa. De repente, ao olhar de novo, o menino não mais estava lá. Tinha sumido. Preocupada, deixou tudo e passou a procurá-lo ao redor. Ao perguntar aos outros frequentadores, soube que o menino havia sido retirado do restaurante por um funcionário de lá. Desesperada, foi para a rua e encontrou-o encolhido e chorando num canto. Perguntado (em catalão, sua língua) disse que "o senhor pegou-me pelo braço e me jogou aqui fora".
O casal e a criança voltaram para o apartamento de minha sogra e contaram o ocorrido. Minha sogra que é freguesa do restaurante, revoltada, voltou com eles para lá. Depois de tergiversações, tentativas de uma funcinária em pôr panos quentes, enfim o tal sujeito (gerente??) identificou-se e com a arrogância típica de ignorantes, disse que teria sido ele mesmo a cometer o descalabro. Mas era um engano, mas plenamente justificável porque crianças pedintes da feira costumavam pedir coisas lá e incomodar. E que ele era bom e até os alimentava de vez em quando. Nem sequer pediu desculpas terminando por dizer que se eles quisessem se queixar que fossem à delegacia.
Minha sogra ligou-me e, de fato, fomos à delegacia do bairro e fizemos boletim de ocorrência. O atendimento da delegada de plantão foi digno e correto. Lavrou o BO e abriu inquérito. Terminou pedindo desculpas e que meus primos não levem uma impressão ruim do Brasil.
Em tempo: o filho de 6 anos é negro. Em um e-mail (ainda não respondido pelo restaurante Nonno Paolo) pergunto qual teria sido a atitude se o menino fosse um loirinho de olhos azuis. 

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-racismo-nao-cordial-do-brasileiro