O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mitologia




Ninguém gosta de receber más notícias, ser contrariado ou ter suas expectativas desfeitas, nem mesmo os deuses. Apolo, o deus dos oráculos, devia saber o quanto a verdade podia doer. Ele amava Corones, uma jovem princesa de Tessália, mas ela gostava de outro, um simples mortal com quem se encontrava às escondidas. Desconfiado, Apolo mandou o corvo, um de seus auxiliares alados, vigiar de perto a faceira princesinha. Pobre corvo. Quando veio relatar os encontros furtivos de Corones, Apolo ficou furioso e resolveu castigá-lo, mudando a cor de suas asas brancas como a neve, para a cor preta que os corvos tem até hoje.

Muitos reis e tiranos do passado agiram como Apolo, punindo o mensageiro por causa do teor da mensagem. Durante a campanha do comandante romano Lúculo contra alguns reinos da Ásia, quando sua legião entrou na Armênia os postos avançados mandaram avisar ao rei local que as forças romanas se aproximavam. O rei Tigranes ficou tão enfurecido que mandou decapitar o mensageiro, por isso ninguém ousou contar-lhe coisa alguma. Enquanto os romanos apertavam o cerco, Tigranes continuava inerte sem ter a menor idéia do que estava acontecendo, ouvindo apenas a voz de seus bajuladores que lhe diziam que Lúculo já devia estar voltando para Roma. Porém um amigo favorito do rei tomou coragem para anunciar-lhe que a derrota era iminente, como de fato aconteceu. 

Outro foi Côtis, rei da Trácia, dissoluto e beberrão que decidiu que haveria de passar uma noite de amor com a deusa Atena, uma das deusas virgens do Olimpo. Para uma ocasião tão importante, preparou um banquete numa mesa luxuosíssima numa alcova ricamente decorada, dispondo uma cama com lençóis e travesseiros dignos da ilustre convidada. Depois de tudo preparado, Côtis se pôs a beber vinho aguardando a chegada de Atena. Como o tempo passasse e a deusa não aparecia, mandou um guarda verificar se ela não tinha se perdido nos corredores do palácio. Quando o guarda retornou dizendo que não havia ninguém, o rei o matou. Mais tempo se passou e Côtis mandou um segundo guarda. O guarda também disse que não havia ninguém, e morreu também. Quando Côtis mandou o terceiro guarda, apavorado com o que acontecera com seus colegas, ele voltou dizendo que a deusa estava chegando ao palácio, pois sofrera um pequeno atraso e depois fugiu.


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