O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida?
Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa.
É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrae e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

Somente no amor gostamos de ver alguém mais feliz do que nós mesmos...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tive um sonho... estranho

Não comemoro o Natal! Raramente compro ou troco presentes, e minha ceia sempre é simples, quero dizer sem exageros, pois não consigo ver sentido em uma felicidade refletida em tanta tristeza espalhada pelas ruas! Respondo às mensagens dos amigos e da família, mas não lembro de algum dia ter escrito algum cartão e nunca comprei ou enfeitei uma árvore.
Não comemoro o Natal como as pessoas normais comemoram, e juro que não é nenhum rancor que tenho da vida, só que vejo este dia como um dia em que minha consciência fica mais aguda porque por onde olho vejo luz e festa em contraste com a sombra e a inconsciência dos que não tem como ou porque festejar, e que no meia-noite estarão em algum lugar dentro deste "espiríto" natalino invisível igual ao de todos que não compartilham seu frio, fome, vício, botas e roupas furadas ou invisibilidade!
Perguntaram este ano, pra um garoto morador de rua de menos de 13 anos, num destes programas que denunciam esta podridão toda que há no mundo, e que persiste à sombra dos impotentes como eu, e à luz natalina dos degenerados que só pensam no próprio peru de natal, porque ele cheirava cola, e ele respondeu que era "pra esquecer a fome"...
Bom, este ano eu fui deitar mais cedo comparando com o horário que normalmente durmo...
Apesar de sempre me lembrar que o Natal é a data do nascimento de Jesus, e ficar bem por isso pois considero a história dele um exemplo de renúncia à ser seguido em prol do próximo, todo ano fico mais quieta neste dia, e estava este ano também menos afeita a abraços do que no ano passado... talvez por minha tristeza, ou cansaço pela vida, porque como diz a personagem do escritor Górki, Tatiana em Pequenos Burgueses, "a vida cansa", deitei mais cedo e tive um sonho manso que valeu a noite de Natal...
Não lembro onde estava, nem com quem estava, lembro que estava estranhamente calada, que sentia uma raiva profunda e angustiante que até nem queria sentir, mas que meu orgulho me exigia solenemente sentir, e que não abaixei a cabeça ao cruzar um corredor qualquer entre umas salas, e que olhei em frente mesmo sentindo que no lugar tinha muitas pessoas que olhavam pra mim e que de repente, senti uma mão na minha cintura e uma voz que disse: venha, vamos comer alguma coisa! Está tudo bem!
Sai, com esta pessoa do lugar em que estávamos e que parecia ser uma casa velha pelo cheiro de mofo, e apesar de estar mesmo com fome não comi nada, mas não me importei, estava mais preocupada no próprio sonho em reconhecer a tal pessoa que estava comigo e que tinha voz familiar!
Lembro vagamente do sonho que me deixou uma sensação de paz! Sei que fiquei calada, e que a tal pessoa que não me lembro ainda de ter reconhecido nem no sonho e nem ao acordar, também não falou nada e só ficou do meu lado!  
Não me lembro de ter ouvido nada que pudesse me confortar de alguma forma ou diminuir minha raiva, mas acordei mais ou menos às quatro da manhã, sentei na cama e percebi que estava mais serena do que quando fui me deitar e com uma certeza de que estava amparada!
Pensei que talvez sendo eu, uma pessoa que acredita muito nos sonhos, até mesmo por minha inclinação religiosa, que talvez nesta noite, eu tenha estado ao lado do que nós cristãos convencionamos chamar por anjo! Um anjo que veio até mim para aliviar meu pesar pela vida, minha angústia!
Foi quase um Natal cristão, pois senti que alguém tinha vindo pra me resgatar da minha raiva, e me senti muito bem por não estar sozinha!

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